DOR DE OUVIDO NA CRIANÇA, RECOMENDAÇÕES PARA PAIS E PROFESSORES  

 

1. Dor de ouvido

2. Causas da dor de ouvido 

3. Mecanismo de proteção para infecções de ouvido 

4. Sintomas 

5. Diagnóstico 

6. Tratamento 

7. Prevenção

8. Dor de ouvido na escola 

 

A dor de ouvido, denominada tecnicamente como otite é mais comum em crianças do que em adultos, no decorrer do texto explicaremos mais detalhadamente a dor de ouvido na criança e as recomendações para pais e professores.

 

1. Dor de ouvido  

 

Ela pode surgir como uma sensação de queimação, uma dor afiada ou maçante, como também pode afetar ambos os ouvidos de uma vez ou apenas um, causando vários desconfortos. Segundo Berenice Ramos, presidente do Departamento de Otorrinolaringologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a otite é a segunda doença infecciosa que mais afeta os bebês, perdendo apenas da infecção viral das vias aéreas (resfriado ou virose).

As infecções de ouvido costumam ser dolorosas devido à inflamação e acúmulo de secreção no ouvido médio. Antes de saber como a infecção acontece, vamos entender como é o ouvido. A estrutura é subdivida em três partes: a externa, a média e a interna. O ouvido externo é constituído pelas orelhas e canal auditivo externo. Ele capta e amplifica os sons, dirigindo-os ao tímpano – membrana que separa o ouvido externo do ouvido médio.

O ouvido médio é constituído por uma câmara aérea no interior do osso temporal do crânio, na qual existem três ossículos articulados: o martelo, a bigorna e o estribo. Estes ossículos captam os estímulos que chegam ao tímpano e os conduzem ao ouvido interno.

O ouvido médio comunica-se com as cavidades nasais através da trompa de Eustáquio (ou tuba auditiva), que tem a função de equilibrar a pressão entre o ouvido médio e o meio ambiente. A infecção nessa região é chamada de otite média, a mais comum nas crianças. O ouvido interno é muito integrado ao cérebro e é constituído pelo labirinto, órgão responsável pelo equilíbrio e pela transformação dos estímulos captados em impulsos nervosos.  

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Fonte: Wikipedia

 

A maioria dos episódios de otite média ocorrem nos primeiros 24 meses de vida, mas a incidência diminui com a idade, exceto por um pequeno aumento entre 5 e 6 anos de idade, quando a criança entra na escola. As crianças são mais propensas do que os adultos a terem otites médias porque o canal que liga a tuba auditiva ao nariz é curto e horizontal (nos adultos, é longo e vertical) e, sendo assim, uma infecção nas fossas nasais tem mais chance de chegar ao ouvido e causar a otite.

A segunda razão é que, como até os 2 anos o sistema de defesa do organismo não produz os anticorpos contra as principais bactérias e vírus, a criança tende a ficar mais resfriada ou com gripe durante essa fase do seu desenvolvimento. Essas doenças aumentam a secreção no nariz e, consequentemente, as chances de ela chegar até os ouvidos. Otite em bebês e casos graves em geral podem necessitar de antibióticos.

Complicações relacionadas à otite, como fluidos persistentes no ouvido médio, infecções persistentes ou infecções repetidas, podem causar complicações graves e até a perda da audição. A otite média geralmente é decorrente de resfriados, gripes, infecções na garganta e respiratória podendo ser viral ou bacteriana. É a principal causa de consulta e de prescrição de antibiótico em pediatria e a maioria dos bebês terá pelo menos um episódio. Cerca de 80% das otites são curadas sem antibiótico, principalmente em crianças maiores de dois anos de idade.

Toda vez que um bebê apresentar sinais ou sintomas de otite média aguda (pontuados ao longo do texto), o pediatra deverá ser consultado para definir o tratamento mais adequado. Por ser muito comum em crianças pequenas, nem sempre é fácil para os pais, cuidadores e educadores perceberem o problema e os sintomas podem ser confundidos com de qualquer outro mal-estar.    

 


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2. Causas da dor de ouvido   

 

Como já dissemos anteriormente, o principal fator de risco é a idade, sendo as crianças pequenas as principais vítimas. Conforme a criança cresce, as otites vão se tornando mais infrequentes, havendo novamente uma alta na incidência entre os 4 e 5 anos de idade.

Após o surgimento dos dentes definitivos a taxa de otite média cai drasticamente. Adultos também podem ter otite média, mas é algo pouco comum. Abaixo destacamos os principais fatores e riscos para a otite média:

  • Traumas, tais como limpeza excessiva (ou agressiva) do ouvido, não só removem cerume, mas também podem criar escoriações ao longo da fina camada de pele no canal auditivo, permitindo que bactérias tenham acesso aos tecidos mais profundos. Além disso, parte de um cotonete pode soltar-se no canal do ouvido; esses resquícios podem causar uma reação cutânea grave, levando à infecção.
  • O uso de cotonete mais empurra o cerume para dentro do canal do que o remove. Esse cerume comprimido pode agir como uma rolha e só sai com o auxílio de um otorrinolaringologista,
  • Ausência do aleitamento materno.
  • Mamar na mamadeira, principalmente na posição deitada.
  • Fumo passivo (pais que fumam perto da criança),
  • História familiar de otite média,
  • Situação de carência econômica.
  • Infecções respiratórias de repetição.
  • Período de inverno.
  • Doenças congênitas, como fenda palatina ou síndrome de Down.
  • Sistema imunológico enfraquecido.
  • Alergias respiratórias.
  • Baixa qualidade do ar.
  • Crianças que ficam em creches/escolas, uma vez que convivem com muitas outras crianças.

 

3. Mecanismo de proteção para infecções de ouvido   

 

Existem alguns mecanismos que dificultam a ocorrência de infecções de ouvido, confira:

  • A própria anatomia da orelha já é protetora, pois ela cobre parcialmente o canal auditivo, dificultando a entrada de objetos estranhos.
  • Outro fator que impede a entrada de objetos estranhos é o fato do canal auditivo apresentar uma área mais afinada, o que impede, por exemplo, o dedo de chegar até o tímpano.
  • A presença de pelos na região mais externa do canal auditivo também age como barreira.
  • A produção de cerume também é essencial, pois além da barreira física, causa uma diminuição do pH do canal auditivo, inibindo o crescimento de fungos e bactérias. O cerume também é uma substância hidrofóbica, o que ajuda a diminuir a umidade dentro do ouvido.
  • O ouvido é um órgão “autolimpante”. A pele do canal auditivo cresce de dentro para fora, o que vai naturalmente empurrar as sujeiras, o excesso de cera e a descamação da pele para fora do ouvido.
  • O canal auditivo possui sua própria flora de bactérias (como outras regiões do nosso corpo), que normalmente não causam problemas de saúde e ainda dificultam a chegada de bactérias mais agressivas. Porém, se houver feridas nesse canal, a penetração de bactérias para tecidos mais profundos será facilitada, causando infecções.

 

Atenção

 

Com o aumento da temperatura, as praias e as piscinas são os locais prediletos para um banho refrescante. Nesses casos, o resultado pode ser o aumento das inflamações e infecções no ouvido, conhecidas como “otite externa”. Por ser quente, úmido e escuro, o canal pode facilmente inflamar-se ou infectar-se com fungos ou bactérias.

De acordo com a otorrinolaringologista Maria Helena Ermel Guatimosim, nunca devemos pingar nada no ouvido, a não ser por prescrição médica. Algumas pessoas costumam utilizar álcool ou vinagre que causam desidratação da pele, predispondo a infecção.  

 

4. Sintomas   

 

Os sintomas mais comuns da dor de ouvido são:

  • Dor (otalgia)
  • Febre (geralmente em casos mais graves)
  • Perda auditiva temporária
  • Choro
  • Perda de apetite
  • Vômito
  • Diarreia
  • Irritabilidade
  • Secreção de líquido do ouvido (otorreia), pode ou não estar presente

 

Procure um médico urgente se a criança desenvolver uma rigidez no pescoço, estiver muito cansado ou irritado. Outros sinais de alerta incluem:  

 

  • Vertigem
  • Dor de cabeça muito forte
  • Inchaço ao redor do ouvido
  • Fraqueza nos músculos faciais
  • Dor muito forte que para de repente pode ser um sinal de tímpano rompido.

 

 

5. Diagnóstico   

 

O diagnóstico é feito pela avaliação clínica do pediatra. O médico vai analisar o ouvido utilizando um instrumento chamado otoscópio (exame de otoscopia). Se uma infecção no ouvido está presente o tímpano poderá apresentar-se imóvel, abaulado, vermelho ou opaco e muitas vezes com secreção purulenta. Se houver qualquer dúvida sobre o diagnóstico, exames complementares podem ser necessários, dependendo da avaliação médica:

  • Timpanometria
  • Reflectometria de pulso acústico
  • Timpanocentese

 

Se houver sinais de infecções de ouvido persistentes ou acúmulo de líquido  no ouvido, o médico poderá encaminhá-lo para um especialista em audição (fonoaudiólogo) ou terapeuta de desenvolvimento para testes de audição, habilidades de fala, compreensão da linguagem ou habilidades de desenvolvimento.  

 


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 6. Tratamento   

 

A maioria das otites médias não precisa ser tratada com antibióticos, pois boa parte se resolve espontaneamente em 1 ou 2 semanas. O uso desnecessário de antibióticos, pode levar à seleção de bactérias mais resistentes, o que pode dificultar o tratamento nos casos em que os antibióticos são realmente necessários.

  • Muitos pacientes podem ser tratados apenas com anti-inflamatórios.
  • Anti-histamínicos e descongestionantes nasais não estão indicados.
  • Alguns estudos mostram não haver evidências claras de que os antibióticos melhorem os resultados em crianças menores de 2 anos.
  • Muitas crianças apresentam otite média aguda recorrente (quando ocorrem três ou mais episódios em seis meses ou quatro episódios em um ano). Estes casos devem ser acompanhados pelo médico, pois muitas vezes necessitam de tratamento e orientações específicas.
  • Não é recomendado o uso de xampu, sabão e outros agentes que irritam o canal do ouvido, como o uso de cotonetes.
  • Também durante o período de inflamação, não é recomendado praticar natação.
  • Nunca pingue nada no ouvido sem o consentimento do seu otorrinolaringologista.

 

7. Prevenção  

 

Algumas orientações para evitar o surgimento da dor de ouvido:

  • Evitar o uso de cotonetes que podem empurrar a cera para o interior do ouvido ou mesmo perfurar o tímpano.
  • Usar protetores de ouvido quando for nadar.
  • Limpar com frequência as secreções nasais ou da garganta para que não se acumulem e subam para o ouvido.
  • Em caso de resfriados, gripes ou rinites, lavar as narinas com soro fisiológico várias vezes ao dia.
  • Nunca amamentar um bebê deitado (sempre sentado ou recostado), pois essa posição facilita que o leite entre pela tuba auditiva.
  • Não introduzir objetos no ouvido para limpá-lo ou coçá-lo.
  • Enxugar bem o ouvido após o banho.
  • Não fumar próximo às crianças.
  • Controlar doenças alérgicas e inflamatórias que acometem as fossas nasais.
  • Tratar o refluxo gastroesofágico.
  • Vacinas contra o Haemophilus influenzae e o Streptococcus pneumoniae protegem as crianças de uma série de infecções menores, entre elas a otite média e a amidalite. Especialmente a vacina contra o pneumococo, consegue reduzir a incidência de otite em 6% ou 7% da população infantil.

 

Importante

Os pais devem ser encorajados a reduzir os fatores de risco, como amamentar os bebês com leite materno até pelo menos os 6 meses de idade, reduzir ou suspender o uso de chupetas e evitar a exposição à fumaça do tabaco.  

 


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8. Dor de ouvido na escola   

 

Quando uma criança se queixar de dor de ouvido no ambiente escolar, algumas medidas poderão ser tomadas a fim de aliviar o desconforto até que os pais possam buscá-la:  

  1. Sentar o aluno em local confortável.
  2. Verificar a temperatura com termômetro digital.
  3. Registrar o valor em impresso próprio.
  4. Em caso detemperatura acima de 37,5°C, comunicar os familiares.
  5. Posicionar o aluno semi-sentado e fenecer uma bolsa de água quente para aplicar na região lateral da cabeça onde o ouvido está doendo (com proteção entre a bolsa e a pele para evitar lesões), por 20 minutos,
  6. Se não melhorar após a aplicação da bolsa de água quente, entrar em contato com os familiares, pois poderá ser necessário a supervisão domiciliar.

 

Os pais podem receber orientações adicionais a fim de reforçar os métodos de prevenção da otite média, especialmente com crianças abaixo de 2 anos de idade. É possível reduzir as chances com medidas simples, tais como:  

  • Sentar ou manter o lactente em posição vertical durante a alimentação.
  • Manter o calendário vacinal em dia.
  • Amamentar exclusivamente até os 6 meses de idade.
  • Evitar lavar o cabelo da criança na banheira.
  • Evitar exposição as bactérias que são encontradas em águas paradas  tais como piscinas infláveis.
  • Eliminar fumaça de cigarro.
  • Detecção precoce de líquido no ouvido médio é essencial para prevenir complicações.

 

Todas as crianças em idade escolar, especialmente aquelas com dificuldade de aprendizado, devem ser testadas para déficit auditivo relacionado com a presença de secreção no ouvido médio.  

 


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Maira BassiMaíra Bassi Strufaldi

Enfermeira e Fisioterapeuta, Pós-graduada em ortopedia e traumatologia, educadora em diabetes, residente do HC-USP  

 

 

Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura.

 

 

 

   

Publicado em: 14/12/2016

Revisado em: 14/12/2016  

 

REFERÊNCIAS

  • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. Ear-NOSE-THROAT. AAP, 2015.
  • ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE OTORRINOLARINGOLOGIA E CIRURGIA CÉRVICO-FACIAL. Verão e calor provocam aumento na dor de ouvido. ABORL, 2007. 
  • REVISTA CRESCER. 8 Respostas sobre dor de ouvido nas crianças. Revista Crescer, 2015.
  • VARELLA, D. Doenças e Sintomas: Otite média. 2015.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Dor de ouvido. SBP, Quem Coruja (entrevista), 2015. 
  • WONG. Fundamento de Enfermagem Pediátrica, Marilyn J. Hockenberry; David Wilson, 9. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014.