ALERGIA ALIMENTAR E REAÇÃO ALÉRGICA, O QUE A ESCOLA PODE FAZER? 

 

1. Compreendendo as diferenças entre alergia x intolerância

2. Alergia alimentar

3. Intolerância alimentar  

4. Fatores de risco para alergia alimentar

5. Diagnóstico da alergia alimentar

6. Manifestações da alergia alimentar

7. Papel do nutricionista na alergia alimentar

8. Tratamento da alergia alimentar

9. Alergia alimentar à proteína do leite de vaca 

10.Há forma de prevenir a alergia ao leite de vaca? 

11. Alergia alimentar e reação alérgica, o que a escola pode fazer? 

12. Se uma reação alérgica ocorrer na escola o que precisa ser feito?

13. Após identificar os sintomas da reação alérgica o que pode ser feito?

 

Este parece ser um problema que vem crescendo nos últimos anos entre as crianças, não são poucas as variedades de alimentos que encontramos nos supermercados, para atender a esse público.

A alergia é uma resposta exagerada do sistema imunológico contra diversas substâncias (alérgenos) que entram em contato com o organismo, seja pela via respiratória, pela via cutânea ou até mesmo por ingestão de alimentos.

Se lembrarmos da nossa época de criança, quase não víamos frases do tipo, “livre de lactose”, “não contém glúten”, “leite de soja”, “leite de arroz”, e por aí vai.

Hoje em dia temos muitas variedades para prevenir os sintomas das intolerâncias alimentares.

Segundo dados epidemiológicos do Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar de 2018, a alergia alimentar é mais comum em crianças.

Estima-se que a prevalência seja aproximadamente de 6% em menores de três anos e de 3,5% em adultos e estes valores parecem estar aumentando.

Os dados sobre a prevalência de alergia alimentar, ao redor do mundo, são conflitantes e variam bastante, pois dependerão de: idade e características da população avaliada (cultura, hábitos alimentares, clima), mecanismo imunológico envolvido, método de diagnóstico, tipo de alimento, regiões geográficas, entre outros.

A prevalência é maior em pessoas com problemas na pele, como a dermatite atópica, porém algumas crianças asmáticas, também podem ter essa manifestação devido às alergias alimentares.

A alergia alimentar por leite de vaca, ovo, trigo e soja desaparecem, geralmente, na infância ao contrário da alergia a amendoim, nozes e frutos do mar que podem ser mais duradouras e algumas vezes durar por toda a vida.

Atualmente, com o aumento da prevalência no mundo todo, a alergia alimentar é considerada um problema de saúde pública. Diversos alimentos podem ser causadores de alergias alimentares, porém, cerca de 80% delas são provocadas pelo consumo de ovo, leite, amendoim, soja, trigo, oleaginosas (castanhas, pistache, nozes…), peixes e crustáceos

De acordo com a Academia Americana de Pediatria, qualquer alimento pode causar uma reação alérgica, mas 90% das alergias alimentares em crianças são causadas por apenas 6 alimentos comuns ou grupos de alimentos. São eles: leite, ovos, amendoim, nozes, soja e trigo. Em adultos, uma porcentagem semelhante de alergias graves é causada por apenas 4 alimentos, sendo eles: o amendoim, nozes, peixes e crustáceos. As alergias a frutas e vegetais são muito menos comuns e geralmente menos graves.

Corroborando com os dados acima, o CDC (Centers for Desease Control), elencou oito alimentos ou grupos de alimentos que são responsáveis pelas reações alérgicas mais graves nos Estados Unidos: leite, ovos, peixe, crustáceos, trigo, soja, amendoim e nozes.

Em 2018 foi atualizado o Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar pela SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria) e Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunologia). Entre os itens avaliados, a alergia à proteína do leite de vaca (APLV), mostrou-se muito comum entre o primeiro e o terceiro ano de vida, diz Dr. Dirceu Solé, diretor científico da SBD.

Nessa fase (entre o 1º e 3º ano de vida), a introdução alimentar, sempre deve ter acompanhamento médico. Pode ser feita a cada 6 a 12 meses como forma de avaliar se houve melhora do quadro alérgico. No entanto, ainda que os efeitos da APLV sejam transitórios, os especialistas alertam para a gravidade de alguns casos, o que exige mais atenção.

Ao contrário da intolerância à lactose, que acontece quando o organismo não consegue quebrar o açúcar do leite, as reações da APLV podem resultar em outras complicações à saúde, como recusa alimentar, dermatite e broncoespasmos.

Raramente os lactentes com alergia à proteína do leite de vaca apresentam, ao mesmo tempo, intolerância à lactose. Exceto aqueles que na fase aguda (com sintomas gastrointestinais), podem apresentar intolerância nas primeiras semanas, de forma secundária à lesão de mucosa intestinal. Nesses casos, a tolerância á lactose desaparecerá quando ocorrer a recuperação dessa mucosa. 

 

1. Compreendendo as diferenças entre alergia x intolerância

 

É muito comum aparecer essa dúvida quando tratamos do assunto alergia ou intolerância alimentar. Afinal, qual a diferença entre elas?

De acordo com a SBP o consumo de alimentos pode levar o organismo a reagir de diferentes maneiras (reação adversa). Dessa forma as reações adversas a alimentos podem se dividir em tóxicas e não tóxicas. As reações não tóxicas podem ser a intolerância alimentar ou a alergia alimentar.

De um modo geral a principal diferença entre alergia e intolerância está na resposta que o organismo apresenta quando entra em contato com determinado alimento.

 


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2. Alergia Alimentar

 

Nas alergias alimentares, o organismo interpreta que alguma proteína daquele alimento é um corpo estranho, e passa a produzir algumas reações que envolvem o sistema imunológico, por isso os sintomas são generalizados e mais graves.

A alergia alimentar geralmente é uma reação adversa ao componente proteico do alimento e envolve mecanismos imunológicos.

 

3. Intolerância alimentar

 

O organismo não possui determinada enzima para digerir alguma parte do alimento, logo o alimento não é digerido corretamente, o que poderá causar sintomas no trato gastrointestinal principalmente.

Foi observado que a maioria dos alimentos que causam intolerância alimentar nas pessoas são a lactose, o glúten, crustáceos, chocolates e alimentos com certos conservantes e corantes.

A intolerância é uma reação adversa que envolve a digestão ou o metabolismo, mas não o sistema imunológico

Embora, equivocadamente, estes termos sejam usados com frequência como sinônimos, é importante estabelecer a diferença entre a intolerância à lactose e a alergia à proteína do leite de vaca, afirma a Sociedade Brasileira de Pediatria.

As reações graves e fatais podem ocorrer em qualquer idade, mesmo na primeira exposição conhecida ao alimento, mas os indivíduos mais susceptíveis parecem ser adolescentes e adultos jovens com asma e alergia previamente conhecida a amendoim, nozes ou frutos do mar.

 

“Apesar de alguns sintomas serem parecidos, outros são totalmente diferentes. As alergias apresentam sintomas que variam desde erupções cutâneas até problemas mais sérios como as anafilaxias (acometimento de múltiplos órgãos, com ou sem queda da pressão arterial e falta de ar, quadros potencialmente fatais. Já nas intolerâncias alimentares, os sintomas são mais relacionados ao trato gastrointestinal, com transtornos na digestão do alimento”, 

 

Explica a alergologista do Hospital Israelita Albert Einstein ao Jornal Estadão, Renata Rodrigues Cocco:

Os sintomas de alergia alimentar no bebê podem surgir poucos minutos até algumas horas após a ingestão do alimento, podendo manifestar-se através da pele, do aparelho digestivo e do aparelho respiratório do bebê.

Devido ao fato de o sistema imune do bebê ainda ser imaturo, alguns alimentos devem ser evitados durante os primeiros 6 meses de vida porque podem provocar alergia, como: leite de vaca, ovo, frutas secas, marisco, soja, morango, amora, pêssego, kiwi, glúten, trigo e cevada. Já o mel, só deve ser incluído na alimentação após o 1º ano.

Para identificar a alergia alimentar, uma boa dica é ir retirando da dieta alguns alimentos, anotando cada um deles numa agenda e deixando-os fora das refeições do bebê durante cerca de 5 dias. Se os sintomas de alergia alimentar no bebê começarem a desaparecer, significa que o bebê é alérgico a um daqueles alimentos.

A alergologista Renata Cocco, do Hospital Israelita Albert Einstein explica que ovo, soja, trigo, amendoim, castanhas, peixes e frutos do mar também estão na lista dos

principais alergênicos. “A alergia por amendoim e castanhas está crescendo. Tem criança que ingere e chega a ir para a UTI”, afirmou a doutora.

A médica também afirmou que o número de pacientes com alergia alimentar está aumentando no Brasil e mundo e que não se sabe o motivo. “Há uma série de razões. Alguns alimentos passaram a entrar mais na vida dos brasileiros, como as nozes. A mudança climática também interfere”, disse Renata Cocco.

De acordo com a Asbai existe ainda a Síndrome de alergia oral, que é caracterizada como uma manifestação da alergia alimentar que ocorre após contato com determinados alimentos com a mucosa oral. As manifestações ocorrem imediatamente após contato do alimento com a mucosa da boca, ocasionando coceira e inchaço nos lábios, palato e faringe. O edema de glote não é frequente. Ocorre principalmente em pacientes com alergia aos polens e os alimentos mais frequentemente envolvidos são: melão, melancia, banana, maçã, pêssego, cereja, batata, cenoura, ameixa, amêndoa, avelã e aipo.

 

4. Fatores de risco para alergia alimentar

 

Pesquisas nos mostram que somente a exposição aos alérgenos não determina o aumento global na incidência da doença. Uma série de fatores de risco têm sido associados à alergia alimentar, por exemplo: ser lactente do sexo masculino, etnia asiática e africana, comorbidades alérgicas (dermatite atópica), desmame precoce, insuficiência de vitamina D, redução da ingesta de ácidos graxos poliinsaturados do tipo ômega 3, redução de consumo de antioxidantes, uso de antiácidos que dificulta a digestão dos alérgenos, obesidade como doença inflamatória, época e via de exposição aos potenciais alérgenos alimentares e outros fatores relacionados à teoria da higiene.

Os fatores de risco, quando estão presentes no início da vida, inclusive na gravidez, são de fundamental importância. O ideal seria a avaliação da predisposição genética, antes ou pelo menos ao nascimento, e a partir da identificação dos vários fatores de risco efetuar a aplicação imediata de métodos preventivos.

Os fatores de risco já identificados, são citados abaixo:

 

  • Características genéticas
  • Imaturidade do Sistema imune de mucosas
  • Introdução precoce de alimentos sólidos antes de 4 meses
  • Falha nos mecanismos de defesa do trato gastrointestinal
  • Interações inadequadas com a flora comensal (bactérias que fazer parte do nosso organismo)
  • Alterações imunológicas
  • Infecções gastrintestinais

 

Além destas características descritas na literatura há outras situações que podem influenciar o desenvolvimento da alergia, como descreve a nutricionista Karine Durães, de São Paulo, especializada em pediatria e fitoterapia, em uma reportagem do Geração Mãe:

 

Temos muito mais conhecimento para diagnosticar hoje em dia, do que há alguns anos, quando o diagnóstico não era realizado. Por outro lado, também há muito mais ‘coisas’ no mundo moderno que fazem aumentar essa incapacidade do sistema imune de lidar de uma forma normal com algumas substâncias. São três coisas principais:

Uma delas é a teoria da higiene, quanto mais a gente fica deixando tudo limpo, usando sabonetes que matam bactérias, usando álcool gel, etc, mais o nosso organismo responde de uma forma exagerada para algum tipo de bactéria à qual ele não está acostumado.

As outras duas teorias são: um bebê que nasce de cesárea (aumentou muito o número nas últimas décadas), o primeiro contato da flora intestinal dele é com a flora hospitalar, que não é a melhor possível. Quando o bebê nasce de parto normal, passando pelo canal vaginal, o intestino dele se contamina com a flora da mãe, que é muito mais saudável. Essa flora deixa o intestino muito mais saudável para poder lidar com algum tipo de antígeno, e a criança acaba tendo menos chances de ter alergia ao leite de vaca.

O outro motivo é esse consumo de leite não adequado para uma criança muito pequena. A criança está na maternidade, acaba tomando uma fórmula infantil e aí o corpo dessa criança acaba tendo contato com esse tipo de proteína, muito diferente do que deveria ser e acaba reagindo por conta desse contato muito cedo.

Outros fatores de risco não menos importantes são:

 

  • A utilização de antibiótico pela gestante pode interferir na formação do sistema imunológico (de defesa) do bebê, isto é, pode alterar a microbiota intestinal do bebê. E como já sabemos hoje em dia, o intestino faz parte do processo da nossa imunidade.
  • A insuficiência de vitamina D (abaixo de 15 ng/mL) foi associada ao risco aumentado para a alergia ao amendoim. Estudos estão sendo realizados sobre o impacto da sua suplementação e prevenção da alergia.
  • Gestantes que fumaram na gravidez e/ou usaram bebidas alcóolicas são fatores de risco importante para que o bebê desenvolva quadro alérgico.

 

Curiosidade

 

Crianças expostas no início da vida a irmãos mais velhos e animais de estimação em casa podem apresentar menor risco de alergia, em decorrência da estimulação da microbiota intestinal (atua no sistema imunológico), o que pode ter efeito protetor em termos de desenvolvimento de alergia.

 


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5. Diagnóstico da alergia alimentar

 

A avaliação médica com coleta de história clínica e exame físico dará início a investigação, e poderá ser complementada por:

  • Testes cutâneos
  • Dosagem de anticorpos específica
  • Dieta de exclusão
  • Testes de provocação oral
  • Endoscopia e biópsia
  • Você poderá conferir o detalhamento do diagnóstico aqui

O diagnóstico correto é crucial não só para direcionar o tratamento, mas também para evitar a restrição alimentar desnecessária da criança.

É possível evitar o aparecimento de alergias alimentares? Infelizmente não!

Boa parte da alergia alimentar tem relação hereditária. Famílias com um ou os dois pais alérgicos (mesmo que não sejam alergias alimentares) têm mais chance de ter um filho com a alergia. A chance também aumenta se um outro filho tem alergia alimentar.

 

6. Manifestações da alergia alimentar

 

As manifestações cutâneas (pele) como vermelhidão, pápulas, coceira, e o angioedema (inchaço em pálpebras, lábios, língua, bolsa escrotal, mãos e pés), e gastrointestinais como vômitos, diarreia e dor abdominal são as mais frequentes.

Sintomas respiratórios também poderão ocorrer como chiado, tosse, falta de ar, porém é importante compreender que esses sintomas respiratórios são comuns na infância, no entanto na manifestação da alergia alimentar esses sintomas respiratório não são isolados, mas acompanhados de outras manifestações como cutâneas e gastrointestinais.

É sabido que 50% dos casos de anafilaxia são provocados pela alergia alimentar, conheça a manifestação nos quadros abaixo:

 

MANIFESTACOES - ALERGIA ALIMENTAR

CHOQUE ANAFILÁTICO

Fonte: Valdo Virgo

 

Algumas orientações:

 

  • Se seu filho apresentar sintomas indicativos de alergia após receber um determinado alimento, mantenha-o fora da dieta e discuta os sintomas com o pediatra.
  • Algumas crianças com alergia ao leite ou ovo podem tolerar uma pequena quantidade de leite ou ovo cozido em um produto assado, como pão ou muffin. No entanto, outras crianças reagem até mesmo a essa quantidade pequena.
  • Uma criança que evita vários alimentos por causa de alergia alimentar pode estar em risco de desnutrição. Converse com seu médico sobre consultar um nutricionista, para conseguir ajuda sobre como alimentar adequadamente seu filho com restrições dietéticas significativas.
  • A criança com alergia alimentar deve ser capaz de realizar todas as atividades que outra criança pode fazer, exceto comer os alimentos aos quais ela é alérgica. Converse com seu pediatra sobre como evitar os alérgenos, bem como sobre estratégias alimentares e de tratamento para manter um estilo de vida seguro e saudável.

 

7. Papel do nutricionista na alergia alimentar

 

O acompanhamento nutricional da criança alérgica é imprescindível para garantir o crescimento e desenvolvimento adequado, prevenindo possíveis deficiências nutricionais e desnutrição durante a infância.

O Nutricionista tem papel importante no tratamento da alergia alimentar na infância, pois é responsável pelo suporte necessário para uma alimentação adequada para criança, como:

 

  • Exclusão do alimento que desencadeia Alergia Alimentar na criança;
  • Esclarecimento de dúvidas à família da criança sobre a Alergia Alimentar e os riscos;
  • Oferecer opções de substituição nutricionalmente equivalente para o alimento excluído;
  • Orientação sobre contaminação cruzada de alimentos;
  • Ensinar os termos sinônimos ao alimento excluído;
  • Orientação sobre a leitura de rótulos de produtos industrializados;
  • Na realização de refeições fora de casa, os familiares devem ser orientados quanto à importância de questionar os responsáveis pela preparação dos alimentos os ingredientes utilizados, e forma de preparação.

 

A Nutrição é uma peça fundamental para a criança com Alergia Alimentar, não só para orientação de riscos e prevenção de deficiências nutricionais pela exclusão de um determinado alimento, mas também na educação nutricional familiar, o que contribui de forma significativa para a inclusão da criança no meio social que ela está inserida. Receitas Culinárias para crianças com Alergia a múltiplos alimentos, acesse o livreto aqui

 

8. Tratamento da alergia alimentar

 

Tratamento ambulatorial:

 

Uma vez estabelecido o diagnóstico de alergia alimentar, a única terapia comprovadamente eficaz é a exclusão dietética do alérgeno implicado nas manifestações clínicas. (SBP, 2007), ou seja, todos aquelas comidas que tenham esse alimento como ingrediente. Lembrando que nas crianças há uma grande chance de voltar a ingerir os alimentos, sem reação. Porém nos adultos, a maioria dos quadros é persistente.

 

Também são medidas importantes:

 

  • Conscientização do paciente e família
  • Educação/ informação
  • Alternativas de substituição
  • Manutenção das necessidades nutricionais
  • Manutenção da qualidade de vida
  • Acompanhamento médico e de um nutricionista

 

Tratamento de emergência:

 

Segundo o Consenso Brasileiro de Alergia Alimentar elaborado em conjunto com Sociedade Brasileira de Pediatria e Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia (2007), o atendimento da emergência deve ser pautado em:

 

  • Interrupção do alimento envolvido
  • Alívio do sintoma desencadeado

 

Casos mais graves deverão ser mantidos sob observação contínua até o alívio dos sintomas, em contrário deverão ser hospitalizados.

 

9. Alergia alimentar à proteína do leite de vaca

 

Como já mencionamos, uma alergia alimentar comum em bebês é a alergia à proteína do leite de vaca, que pode ocorrer mesmo durante a amamentação.

A alergia ao leite de vaca está entre as hipersensibilidades mais comuns em crianças pequenas, provavelmente porque é a primeira proteína estranha que muitos bebês ingerem em grandes quantidades, especialmente se forem alimentados com mamadeira. Se houver alergia ao leite de vaca durante a amamentação, o leite e os laticínios devem ser eliminados da dieta da mãe.

O vômito após a alimentação é a forma mais comum de uma criança mostrar alergia ao leite, mas podem ocorrer reações mais graves. Cólicas, choro e gases às vezes podem ser as únicas manifestações de alergia ao leite de vaca em bebês muito pequenos. Outros sintomas iniciais e mais sutis de alergia ao leite geralmente envolvem a erupção cutânea com coceira e seca do eczema (dermatite atópica).

A fórmula à base de soja pode ou não ser adequada para bebês alérgicos ao leite, porque alguns que são sensíveis ao leite de vaca também são incapazes de tolerar a proteína de soja. Se o bebê é alérgico ao leite de vaca e não tolera fórmula de soja, seu pediatra pode recomendar uma fórmula especial feita de proteína amplamente hidrolisada ou uma fórmula elementar de aminoácidos.

Leite e alimentos derivados do leite de vaca são fontes importantes de cálcio, mineral essencial para ossos e dentes fortes, função muscular e nervosa e para a saúde de todos os sistemas do corpo. Vegetais com folhas verde-escuras, peixe, figos secos, ameixas e tofu estão entre as muitas fontes ricas de cálcio não lácteos para crianças mais velhas que não podem tolerar leite, queijo e iogurte.

O reconhecimento e diagnóstico da APLV são difíceis, uma vez que não há um teste único ou combinação de exames que a definam com exatidão. Assim é importante que o médico programe a realização de testes específicos para confirmar o diagnóstico, respeitando as particularidades de cada paciente.

 

10. Há forma de prevenir a alergia ao leite de vaca?

 

De acordo com a SBP não há comprovação de que a dieta de restrição alimentar da mãe, durante a gestação e na amamentação, possa prevenir alergias alimentares na criança. A restrição do leite de vaca e derivados para a mãe somente deve ser considerada se houver

reações comprovadamente alérgicas no lactente que estiver sendo amamentado. Neste caso a mãe deve receber aconselhamento sobre sua dieta para evitar déficit da ingestão de determinados nutrientes

 


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11. Alergia alimentar e reação alérgica, o que a escola pode fazer?

 

A criança com necessidade alimentar especial tem o direito a ser acolhida no ambiente escolar com uma alimentação adequada às suas necessidades, assegurada pela Lei no. 12.982/14 e Lei 11.947/09.

Por isso é importante que a escola promova ações com objetivo de garantir a oferta de um cardápio especial para as crianças com alergia alimentar.

Confira abaixo as recomendações para escolas:

  • Solicitar informações sobre alergia e intolerância das crianças no ato da matrícula. Para que a escola possa lidar melhor com a alergia (especialmente em casos de reações), o ideal é que a família leve um relatório médico detalhado com: – os dados da criança – alergia a qual(ais) alimento(os), os tipos de reações que costumam ter, – indicação do que fazer em casos de reação alérgica, se há medicação a ser usada e qual a dosagem e/ou forma de aplicação.
  • Informar ao professor responsável sobre o histórico desta criança.
  • Orientar a equipe de nutrição para que possam ajustar o cardápio.
  • Orientar o responsável pela compra dos alimentos a realizar a leitura do rótulo e conhecer os alimentos que possam causar alergia (confira aqui a cartilha de alergia alimentar).
  • Não confiar apenas nos rótulos dos alimentos, se for necessário entrar em contato pelo SAC do fabricante. Atualmente, existem normas regulamentadas pela ANVISA que determinam que todos os alimentos e bebidas devem ter em suas embalagens a informação sobre a presença de alimentos potencialmente alergênicos, mesmo que sejam em quantidades muito pequenas (traços), mas que são suficientes para desencadear as reações alérgicas. Esses rótulos sempre deverão ser lidos e, se houver algum componente que a pessoa tenha dúvida, deverá buscar esclarecimentos.
  • Solicite aos familiares uma listagem com os materiais e fabricantes que costumam utilizar. Alguns materiais escolares têm, em sua composição, alergênicos, como algumas marcas de giz de lousa, que contêm caseína (proteína do leite), giz de cera (algumas contêm soja) ou massinha (muitas contêm trigo). Por isso, é importante checar a composição do material e orientar a professora a fazer o mesmo.
  • No caso das crianças menores alérgicas, para tentar evitar trocas indesejadas de seus pertences durante a alimentação, é possível etiquetar lancheira e potes que sejam levados à escola com o nome da criança e até com um lembrete: criança alérgica a leite, por exemplo.
  • Produtos de higiene e cosméticos também podem conter alérgenos, por isso é importante não compartilhar produtos e conversar com os pais para compreender quais produtos podem ser utilizados.
  • Realizar atividades educativas sobre o tema, especialmente com turmas que possuem alunos alérgicos é uma importante estratégia para prevenção, já que alimentos podem acabar compartilhados entre as crianças, além de favorecer a integração e cooperação.
  • Consulte mais estratégias educativas sobre o tema na Sociedade Brasileira de Alergia e Imunopatologia, acesse aqui.

 

Ao planejar as atividades pedagógicas, a escola precisa levar em conta a existência de alunos (as) com alergia alimentar na turma, seja no uso de embalagens como caixas de leite, ovos, recipientes de iogurtes etc, seja na escolha de receita para aulas de culinária ou ainda no uso de instrumentos musicais, especialmente de sopro, como a flauta, situação em que o ideal seria que o alérgico tivesse seu instrumento para uso exclusivo.

 

  • Não isolar a criança durante as refeições ou atividades que envolvam alimentos, isso poderá comprometer as relações entre elas.
  • Se a refeição é fornecida pela escola é importante conversar com a direção e com o nutricionista responsável pelo cardápio e também pedir para conversar com os responsáveis pelo preparo dos alimentos.
  • Uma boa maneira para se evitar reações é pedir o cardápio com antecedência e indicar as adaptações que precisam ser feitas pela escola na escolha dos produtos e/ou no preparo das refeições.
  • Separar a esponja e utensílios que serão utilizados no preparo dos alimentos oferecidos às crianças mais sensíveis.
  • Evite o uso de frases que possam rotular a criança ou assustem as outras crianças (por exemplo: você não pode porque é alérgico).
  • Estimular a lavagem das mãos e higiene do rosto de todas as crianças após o lanche (algumas crianças podem ter uma reação alérgica apenas por estarem.
  • próximas do alimento agressor, sem realmente ingeri-lo. Esse contato deve ser minimizado lavando as mãos e rostos das crianças e todas as superfícies que estiveram em contato com os alimentos) e providenciar limpeza adequada da sala de lanche são atitudes importantes para evitar as reações de contato (especialmente se após o lanche forem utilizar o parquinho). Atentar para que o local da refeição dos alunos esteja sempre limpo, pois até migalhas de alimentos deixados na mesa podem gerar reações graves.
  • Durante festas e comemorações estar atento para troca e compartilhamento de lanches, se ocorrer comunicar os pais para supervisão de possíveis reações.
  • Comunicar os pais com antecedência sobre a ocorrência da festa, se possível disponibilizar produtos que possam ser consumidos pela criança com sensibilidade.
  • Conversar na escola (direção e professores) para que avisem com antecedência quando houver festa ou comemorações na escola. Vale também conversar com as demais famílias da classe. Assim será possível que a família se organize para enviar a escola alimentos que o estudante possa comer em segurança.

 

Importante!

 

A alergia alimentar não pode resultar em exclusão de ninguém das atividades, festas e eventos da escola. Por isso, é importante estreitar parceria com a escola e com as famílias para que o espaço dedicado à formação dos indivíduos para o exercício da cidadania não se torne um ambiente perigoso e pouco acolhedor.

 

  • Em caso de viagens e passeios com a escola, verificar se a refeição será levada de casa por cada aluno, se será elaborada pela escola ou se será preparada por terceiros no local do passeio.
  • É importante conversar com quem for preparar a refeição, inclusive o nutricionista responsável (se houver), para checar quais os alimentos que serão oferecidos e buscar soluções seguras e acolhedoras.
  • Sempre que houver passeio externo, a escola deve levar cópia do relatório médico e do plano de ação e deve garantir que haja ao menos duas pessoas aptas a identificar reações e que saibam o que fazer em caso de emergência.
  • Atentar para entrega de lembrancinhas contendo alimento. 

 

Atenção!

 

Escolas públicas e conveniadas com o poder público da educação básica (educação infantil, ensino fundamental, ensino médio e educação de jovens e adultos) devem fornecer cardápio especial para necessidades alimentares especiais, incluindo a alergia alimentar, elaborado com base em recomendações médicas e nutricionais. Esse cardápio deve ser feito com base no Caderno de Referência sobre Alimentação Escolar para Estudantes com Necessidades Alimentares Especiais, elaborado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação – FNDE.

Existe um projeto de lei tramitando no Senado para que haja “Semana Nacional de Conscientização da Alergia Alimentar”, com a finalidade de maior informação sobre essa doença, pois a informação é a melhor forma de educação e prevenção.

Além alergia alimentar estar aumentando no mundo todo, temos observado que alguns pacientes demoram muito mais tempo para desenvolver a tolerância. Com isso, as escolas passarão a receber um maior número de alunos apresentando alergia alimentar, reforçando a importância da escola como instrumento no tratamento e inclusão dessas crianças.

 

12. Se uma reação alérgica ocorrer na escola o que precisa ser feito?

 

A primeira recomendação é reconhecer os sinais e sintomas desta reação, é importante que todos os colaboradores a unidade escolar saibam quais são as crianças com sensibilidade a determinados alimentos e possam identificar rapidamente quando uma reação ocorrer.

Quanto antes a manifestação da reação alérgica for identificada, mais rápido será o atendimento evitando possíveis complicações.

 

Sintomas que poderão ser observados:

 

Vermelhidão e coceira pelo corpo: Ao observar que a criança está coçando determinada região do corpo, desconfiar de uma possível reação, leva-la a um local reservado e pedir para que levante a blusa, é muito comum que manchas vermelhas comecem pelo corpo e depois apareçam no rosto, por isso é importante identifica-las o quanto antes.

Olhos e lábios inchados: Desconfie da criança que apresentar coceira nos olhos, lacrimejamento e inchaço nas pálpebras, observe também os lábios, mãos e pés que poderão apresentar inchaço. 

Chiado, ronquidão e tosse: Se não há um quadro respiratório prévio (criança com resfriado por exemplo), a presença de chiado, ronquidão e tosse acompanhada de manifestações cutâneas e gastrointestinais poderão indicar uma reação alérgica.

Estar atento a esses sintomas, pois a dificuldade respiratória poderá ocorrer e até parada respiratória, o que representa gravidade do quadro.

Vômitos, diarreia e dor abdominal: A criança poderá apresentar vômitos, dores na barriga e até diarreia, desconfiar destes sintomas como parte da reação.

 

13. Após identificar os sintomas da reação alérgica o que pode ser feito?

 

Comunicar os familiares da criança imediatamente, eles são as pessoas mais indicadas para orientar os educadores sobre o que deve ser feito.

Na impossibilidade de falar com os familiares, verificar se a criança possui indicação médica de algum medicamento em caso de reação. Se possui, essa medicação deverá conter em receita médica legível, devidamente acompanhada da embalagem do medicamento e de um documento assinado pelos pais com as orientações para seu uso e para identificar os itens abaixo:

 

  • Nome do aluno
  • Nome do medicamento
  • Dose para ser administrada pela via oral
  • Nome e conselho do médico
  • Atenção: o medicamento só poderá ser administrado se estiver acompanhado de receita médica

 

Uso da adrenalina autoinjetável em casos de reação alérgica:

 

Algumas crianças possuem reações mais severas, por esse motivo poderão ter indicação médica de adrenalina injetável.

Isso é necessário pois a reação poderá evoluir rapidamente causando risco de morte. Uma solução para esse tipo de situação é a utilização da adrenalina autoinjetável. Esse tipo de medicamento terá ação cerca de 8 minutos após ser aplicado na via intramuscular interrompendo o processo de anafilaxia.

Porém este medicamento na sua apresentação autoinjetável não é fabricado no Brasil. Por esse motivo a Sociedade Brasileira de Pediatria, por meio do Departamento de Alergia e Imunologia, entregou em 27 de janeiro de 2016 um abaixo-assinado com seis mil assinaturas solicitando a disponibilização imediata da adrenalina autoinjetável para pacientes que necessitam.

Esse documento foi entregue coordenação da Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde em Brasília.

Para crianças que possuem essa receita médica, a alternativa é a aquisição da adrenalina autoinjetável pelos pais em outros países (pois no Brasil não há nenhum laboratório que comercialize e não é disponibilizada no SUS).

 

Se a escola receber a adrenalina autoinjetável e sua receita médica deverá utiliza-la conforme as orientações dos familiares (esses possuem a orientação médica de quando e como utilizar), confira abaixo as recomendações:

 

  • Armazenar o medicamento dentro de sua embalagem original, com receita médica e fora do alcance de crianças, em recipiente protegido com tampa, preferencialmente em local de fácil acesso.
  • Utilizar um impresso plastificado com informações importes (nós da Creche Segura recomendamos deixar junto com o medicamento um impresso plastificado com os sintomas que deverão ser observados, imagem da criança com esses sintomas, se houver e o passo-a-passo para aplicar a adrenalina autoinjetável), faça download de um modelo aqui
  • Essas informações deverão ser fornecidas pelo médico aos familiares que farão a orientação dos profissionais da unidade escolar.
  • Todas as pessoas próximas a criança, na unidade escolar, deverão ter acesso a este impresso e conhecer os procedimentos a serem adotados em caso de reação alérgica.
  • Após a aplicação do medicamento a criança deverá ser encaminhada para o hospital.

 

A atualização do Consenso Brasileiro sobre Alergia Alimentar da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) publicado em 2018 e o Guia sobre Alergia Alimentar da Academia Europeia de Alergia e Imunologia (EAACI), trazem algumas orientações importantes:

Dieta na gravidez: não se recomenda nenhuma restrição alimentar na gravidez. Não existem estudos que comprovem que algum tipo de restrição na gestação pode inibir o aparecimento de alergias alimentares. O acompanhamento médico e nutricional no pré-natal é imprescindível de forma a garantir que não haja qualquer prejuízo para a mãe ou ao bebê.

Parto normal: sabe-se que é muito importante que o bebê tenha contato com a flora vaginal da mãe no momento do nascimento e isto pode ser um fator protetor para a prevenção das alergias alimentares.

Amamentação: A amamentação exclusiva nos primeiros 6 meses de vida do bebê tem um papel importante na apresentação dos alergênicos ao organismo do bebê e de proteção contra infecções; Nos primeiros dias de vida há a maior chance de sensibilização alérgica, e portanto, o aleitamento materno deve ser encorajado e promovido desde a sala de parto (sendo parto normal ou cesárea).

Dieta “preventiva” na amamentação: não é indicado que a mãe faça dieta de qualquer alimento para prevenir alguma alergia no bebê. Muito ao contrário, quanto mais variada é a dieta materna, menor a chance de o bebê desenvolver alergias alimentares. A retirada de alimentos da dieta da mãe somente deve acontecer com orientação de um profissional de saúde em caso de suspeita de alergia alimentar.

Introdução alimentar: a orientação geral é a de que a introdução alimentar aconteça a partir dos 6 meses de vida. Não se recomenda o adiamento da introdução alimentar e nem que, iniciada a introdução, sejam evitados alimentos alergênicos. A dieta somente deve ser orientada para os casos em que há confirmação de alergia alimentar.

 

Importante

 

Em janeiro de 2016 foi decretada em São Paulo a Lei Estadual 16.925 voltada a instituições públicas e privadas e que no artigo 2 informa: “o estabelecimento de ensino, creche ou similar, deverá capacitar seu corpo docente e equipe de apoio para acolher a criança e o adolescente portador de deficiência ou doença crônica, propiciando-lhe a integração a todas as atividades educacionais e de lazer que sua condição pessoal possibilite”. A Lei entende como doença crônica “alergias, diabete tipo I, hepatite tipo C, epilepsia, anemia hereditária, asma, síndrome de Tourette, lúpus, intolerância alimentar de qualquer tipo”, dentre outros.

 

 


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Veridiana Ferreira Torres

Enfermeira Especialista em Cardiologia pela Unifesp e Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior

 

 

Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura

 

 

 

 

Publicada em: 4/06/2016

Revisada em: 28/12/2021

 

 

Referências: