ESCARLATINA NA CRIANÇA, O QUE A ESCOLA PRECISA SABER? 

 

1. Escarlatina uma preocupação atual para uma doença antiga

2. Transmissão da escarlatina:

3. Sinais e sintomas da escarlatina:

4. Diagnóstico da escarlatina:

5. Tratamento da Escarlatina:

6. Prevenção da Escarlatina:

7. Escarlatina na escola:

 

Você já ouviu falar em escarlatina? Em inglês escreve-se Scarlet fever, que quer dizer febre escarlatina. A palavra escarlatina vem da cor vermelho – escarlate. No decorrer da matéria entenderemos o porquê.

Escarlatina é uma doença infectocontagiosa causada por uma bactéria chamada estreptococo beta hemolítico do grupo A também conhecida como Streptococcus pyogenes e está frequentemente associada à faringite e ocasionalmente ao impetigo.

As toxinas produzidas pelo Streptococcus pyogenes desencadeiam uma reação alérgica/inflamatória muito característica na pele do paciente, que se manifesta com manchas vermelhas (vermelho-escarlate) por todo o corpo, assim justificando o nome da doença de Escarlatina.

Não são todas as pessoas que têm alergia à essas toxinas, somente as que têm reação devido à uma predisposição genética. Crianças em idade escolar (entre 5 e 18 anos) são mais susceptíveis a escarlatina, pois nessa fase, o sistema imunológico está em desenvolvimento e a convivência na escola facilita a transmissão. Já no lactente, a infecção é rara, provavelmente devido à transferência de anticorpos maternos contra a toxina.

 

1. Escarlatina uma preocupação atual para uma doença antiga

 

A escarlatina foi uma doença comum do século XX na Inglaterra e no país de Gales, e até os anos 1930 registrou mais de 100 mil casos.

Segundo uma publicação da BBC os casos foram reduzindo desde então, porém em 2014 especialistas começaram a notar um aumento significativo no número de casos.

Não se sabe exatamente o motivo pelo qual está ocorrendo este aumento, amostras foram colhidas em diversas partes do país e os pesquisadores afirmam que não surgiu um novo tipo de escarlatina.

O que as pesquisas demonstram é que a infecção não se mostrou resistente a penicilina, e os médicos ainda não conseguem explicar o aumento do número de casos.

 

 


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2. Transmissão da escarlatina:

 

A transmissão ocorre de pessoa para pessoa (contato direto) através de gotículas de saliva ou secreções infectadas (tosse, espirros) provenientes de pessoas doentes ou que sejam somente portadores da bactéria, isto é, pessoas saudáveis, mas que transportam a bactéria na garganta ou no nariz sem apresentar sintomas. Orienta-se a não utilizar copos e talheres para mais de uma criança sem que estes estejam devidamente higienizados.

Acomete igualmente ambos os sexos. A maior taxa (11,3%) de portadores sadios ou assintomáticos de estreptococos do grupo A, encontra-se na faixa etária de crianças em ambos os sexos, enquanto para adultos a taxa é de 0,8%.

O período de incubação (período entre o contato com a pessoa infectada e o aparecimento dos sintomas) é em geral de 02 a 05 dias, sendo discutível a transmissão nessa fase da doença.

O período de transmissão tem seu início junto com os primeiros sintomas. Nos casos não tratados e sem complicações, dura de 10 a 21 dias. Nos casos adequadamente tratados, até 24 horas do início do tratamento.

 

3. Sinais e sintomas da escarlatina:

 

Os sinais clínicos apresentados na escarlatina são:

  • Febre alta (acima de 38.2°C)
  • Calafrios
  • Dor na garganta
  • Mal-estar
  • Inapetência
  • Dor de cabeça, dor abdominal e dor de cabeça
  • Náuseas e vômitos
  • Aumento doa gânglios do pescoço
  • Cor vermelha brilhante nas dobras da axila e virilha (linhas de Pastia)

 

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Representação das linhas de Pastia

Fonte: Adam

.

Língua com aspecto de morango (as papilas incham e ficam com a cor vermelho-arroxeado). Inicialmente a língua se apresenta branca e saburrosa e depois apresenta o aspecto de framboesa.

 

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Representação do aspecto da língua

Fonte: Wong, 2014

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  • Palidez ao redor dos lábios
  • Erupção cutânea (exantema cutâneo): pequenas manchas vermelho-escarlate de textura áspera na pele que aparecem inicialmente no tronco, pescoço, depois na face, nos braços e pernas, axilas e virilha, dando um aspecto de lixa poupando as palmas das mãos e as plantas dos pés.

 

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Erupção cutânea na pele

Fonte: WebMD

.

Após 2 ou 3 semanas começa uma descamação na face e pescoço, em finas escamas, desce para o tronco e por último para as extremidades.

As mãos e os pés são os últimos que descamam e de forma mais intensa. Especificamente na face encontramos lesões puntiformes, com a testa e bochechas hiperemiadas (avermelhadas), contrastando com a palidez da região perioral (ao redor da boca). Alguns pacientes queixam-se de coceiras, mas são raros os casos.

 

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Representação dos principais sintomas da escarlatina

Fonte: Wong, 2014

 

Os sinais e sintomas da escarlatina são incomuns em pacientes menores de 03 anos de idade, que geralmente apresentam quadros atípicos, com sinais e sintomas inespecíficos, como febre baixa, irritabilidade, anorexia e adenite cervical.

 


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4. Diagnóstico da escarlatina:

 

O diagnóstico da escarlatina normalmente é feito, através da avaliação clínica do paciente (principalmente febre, inflamação da garganta e erupção avermelhada na pele, pois são sinais característicos da doença) e pelos sintomas referidos pelo próprio paciente ou familiar.

Se por acaso houver dúvidas, o médico pode colher amostras (swab= cotonete próprio para uso laboratorial) de secreção da garganta para pesquisa do Streptococcus pyogenes, exame de sangue para a verificação da quantidade de glóbulos brancos presentes no plasma que indicarão a presença ou ausência da infecção e realizar o teste rápido para a pesquisa da bactéria presente na garganta da criança que em meia hora fica pronto.

As especialidades médicas que têm a competência de diagnosticar a escarlatina são: Dermatologia, Clínico Geral, Infectologia, Otorrinolaringologia e Pediatria.

 

5. Tratamento da Escarlatina:

 

O tratamento da escarlatina é feito com antibióticos e pode ser iniciado em até oito dias após o início do quadro, com o objetivo de eliminar o Streptococcus pyogenes e consequentemente interromper a produção das toxinas que provocam as reações na pele.

Além de curar os sintomas, o tratamento com antibiótico também é importante para reduzir o risco de transmissão da bactéria para outras pessoas e, principalmente, para reduzir o risco do paciente desenvolver complicações.

O antibiótico de escolha no tratamento da escarlatina são as Penicilinas, salvo se a criança for alérgica. O medico deverá recomendar o melhor tratamento após avaliação da criança.

A escarlatina pode ser facilmente curada, desde que o tratamento seja seguido corretamente. Embora a crise regrida naturalmente, esperar a remissão espontânea dos sintomas pode trazer complicações sérias, como abcesso na garganta, infecções nos pulmões, rins, coração, ouvidos e até mesmo no sistema nervoso.

A febre reumática (doenças inflamatória que pode causar danos as articulações, pele coração e cérebro) e a glomerulonefrite (infecção que acomete pequenas estruturas dos rins) pós estreptocócica são complicações raras atualmente, mas que ocorriam com relativa frequência no passado.

Se outros membros da família apresentarem febre ou dor de garganta com ou sem erupção cutânea, estes devem ser orientados a procurar um médico para realizar uma avaliação clínica e fazer o devido diagnóstico.

Em caso de surto, deverá ser feito contato para verificar a possibilidade da coleta destes exames.

 

  • CVE: Central – 08000 555 466
  • Divisão de Doenças de Transmissão Respiratória – (11) 3066 8236 e 3082 0957) ou
  • IAL (Bacteriologia (11) 3068 2893; 3068 2894)

 

 

6. Prevenção da Escarlatina:

 

 

Como já sabemos, as bactérias são transmitidas pelo contato direto com pessoas infectadas, ou por gotículas exaladas por uma pessoa que esteja contaminada (apresentando ou não sinais clínicos).

Sendo assim, a melhor forma de prevenir o contágio da escarlatina é evitando o contato com pessoas infectadas.

Infelizmente não existe uma vacina para prevenção das infecções por Streptococos. A melhor estratégia de prevenção da doença é manter as boas práticas de higiene geral, enfatizando a lavagem regular das mãos e evitar o contato direto com crianças infectadas com a doença.

Por ser uma doença infectocontagiosa é muito importante que as crianças com escarlatina ou inflamação de garganta permaneçam em casa e não vão à escola, pelo menos, durante 24 horas após o início do tratamento com antibiótico.

 

 


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7. Escarlatina na escola:

 

As crianças em fase escolar têm risco aumentado de adquirir infecções. O risco está associado à maior vulnerabilidade das crianças devido a hábitos que facilitam a disseminação de doenças como levar as mãos e objetos à boca, contato interpessoal muito próximo, uso de fraldas, imaturidade do sistema imunológico e vacinação incompleta.

Os cuidados de saúde e higiene devem fazer parte do processo educativo da criança, considerando especialmente a sua autonomia.

Por exemplo, a criança deve ser capaz de compreender a importância da lavagem das mãos e realizá-la de uma forma consciente.

Além de que todos os cuidados devem ser transmitidos às famílias para que os mesmos sejam realizados em casa.

As creches e escolas de educação infantil possuem um perfil característico para a transmissão de doenças infecciosas, pois as crianças ficam aglomeradas recebendo atendimento de forma coletiva principalmente em épocas mais frias onde geralmente as janelas ficam fechadas impedindo que o ambiente fique arejado (e é justamente nessa época que a transmissão da escarlatina é favorecida podendo ocasionar surtos). E se por acaso uma criança tiver a suspeita de estar infectada com a escarlatina, esta deverá ficar em observação em ambiente separado.

 Para prevenir e controlar as infecções nas instituições de educação infantil, alguns cuidados serão necessários:

  • Higienização das mãos é a medida mais econômica e simples na prevenção de doenças, e deve ser realizada com técnica adequada, conheça o passo-a-passo recomendado pela Anvisa.

Quando as mãos dever ser higienizadas?

  • Ao chegar ao trabalho;
  • Antes de preparar os alimentos;
  • Antes de alimentar as crianças;
  • Antes das refeições;
  • Antes e após cuidar das crianças (troca de fralda, limpeza nasal, etc.);
  • Após tocar em objetos sujos;
  • Antes e após o uso do banheiro;
  • Após a limpeza de um local;
  • Após remover lixo e outros resíduos;
  • Após tossir, espirrar e/ou assuar o nariz;
  • Ao cuidar de ferimentos;
  • Antes de administrar medicamentos;
  • Após o uso dos espaços coletivos

Ensine as crianças a lavar as mãos:

  • Antes das refeições;
  • Após o uso do sanitário;
  • Após brincar com areia, terra, na horta, com tinta ou em outras situações em que as mãos possam estar sujas.

 

Crianças do berçário devem ter suas mãos lavadas por um adulto, o que poderá ocorrer no momento da troca de fraldas (assim elas poderão associar desde muito cedo que é preciso lavar as mãos após fazer xixi o cocô). Outro momento é antes de oferecer os alimentos.

  • Orientar os familiares dos alunos que não devem deixar as crianças doentes na escola, pois como estão em um ambiente coletivo a probabilidade de transmissão da doença será ainda maior. No caso da Escarlatina o período de transmissibilidade poderá ocorrer durante o período de incubação (2 a 5 dias) e quadro clínico da doença (aproximadamente 10 dias), por isso é importante que o médico oriente os familiares sobre o período em que a criança deverá permanecer afastada da escola, o que poderá ocorrer 24 horas após iniciar o tratamento com antibiótico adequado e a criança estiver sem sintomas.
  • Manter os ambientes arejados, limpos e iluminados.
  • Os talheres, pratos e copos, quando não descartáveis, devem ser utilizados individualmente, não podendo servir a mais de um usuário antes de serem higienizados adequadamente.
  • Higienização dos brinquedos, de acordo com as recomendações da ANVISA.
  • Os brinquedos deverão ser de material de fácil limpeza e desinfecção, deverão ser colocados em local separado após a utilização (local exclusivo para brinquedos sujos).
  • Só poderão retornar para brincadeiras os brinquedos que forem higienizados com água e sabão com escova de uso exclusivo, deixados expostos para secar sob superfície protegida com papel toalha e então acondicionados na caixa de brinquedos limpos.
  • É muito importante instituir um protocolo para limpeza dos brinquedos, estudos apontam que existe um risco aumentado para ocorrência de doenças por contaminação das mãos das crianças e funcionários das escolas, e recomendam a intensificação da higienização das mãos e brinquedos após cada uso (Boone e Gerba, 2004; Nesti e Goldbaun, 2007)
  • Colchões e travesseiros deverão ter revestimento impermeável que facilite a limpeza e desinfecção com álcool 70% a cada turno, ou após o contato com fluídos corpóreos (retirar excesso com papel toalha, limpeza com água e sabão e desinfecção com álcool 70%).
  • As banheiras deverão ser higienizadas com água e sabão após cada uso, depois de secas deverá ser aplicado álcool 70% com papel toalha.
  • Disponibilizar equipamentos de proteção individual para os colaboradores (sapatos fechados, uniformes ou aventais com material impermeável, luvas, entre outros).
  • Os bebedouros deverão ser lavados diariamente com água e sabão e utilizada solução para desinfecção conforme recomendação do fabricante.
  • É muito importante que familiares e cuidadores de crianças conheçam os sintomas da escarlatina, para poder intervir de forma rápida (comunicar os pais e encaminhar a criança para avaliação médica).
  • Utilizar lenços descartáveis para higienizar o nariz, pois a prática da higiene nasal evita o surgimento de doenças. Aproveitar para ensinar a criança a cuidar de si, disponibilizando lenços de papel quando solicitado por ela, mas supervisione bem estas ações, sem esquecer que, em seguida, é preciso lavar as mãos.
  • Tais materiais devem ser exclusivamente de uso individual:  sabonete, xampu, remédios, mamadeira, chupetas. Todo o material deve estar marcado com o nome de cada criança. As escovas de dente devem dispor de protetores que impeçam o contato de uma com a outra e devem ser guardadas separadamente.
  • Os adultos em constante contato com crianças devem manter as unhas limpas e curtas.
  • Dialogar com os pais sobre saúde é muito importante, isso favorecerá a compreensão sobre a saúde e cuidado da criança e contribuirá para que as medidas de prevenção de doenças sejam realizadas na escola e continuadas em casa.
  • Quando dois ou mais casos de escarlatina ocorrerem na escola comunicar à Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal de Saúde. Informações adicionais consulte o seguinte endereço eletrônico: http://www.cve.saude.sp.gov.br

 


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Publicado em: 10/09/2016

Revisado em: 10/09/2016

Maira Bassi

Maíra Bassi Strufaldi

Enfermeira e Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Ortopedia e Traumatologia, Educadora em Diabetes e Facilitadora de Formação da Creche Segura

 

Referências:

  • AGÊNCIA NACIONAL DE VIGIÂNCIA SANITÁRIA. Orientações da Vigilância Sanitária para Instituições de Educação Infantil, Prefeitura de Belo Horizonte, 2013.
  • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. SCARLET FEVER. Disponível em: https://www.aap.org. Acesso em: 18/07/2016.
  • CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. O que você precisa saber sobre escarlatina. Disponível em: http://www.saude.sp.gov.br/resources/cve-centro-de-vigilancia-epidemiologica... Acesso em: 04/09/2016
  • BOONE, A. S.; GERBA, C. P. The occurrence of influenza A virus on household and day care center fomites. Journal of Infection, v. 51, n. 2, p. 103-109, Aug., 2005.
  • CENTRO DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA. Informe técnico. Escarlatina: Informações para surtos. Disponível em: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/resp/if_escarla07.pdf. Acesso em: 07/09/2016.
  • NESTI, M.M.M., GOLDBAUM, M. Infectious diseases and daycare and preschool education. J Pediatr (Rio J), 2007, 83(4): 299-312
  • PREFEITURA DE DIADEMA. Manual de orientação aos profissionais das escolas de período integral. Novembro de 2011.
  • PREFEITURA DO RIO DE JANEIRO. Orientações para profissionais da educação infantil. Gerência da educação infantil. Julho de 2010.
  • PREFEITURA DE SÃO PAULO. Manual de boas práticas de higiene e de cuidados com a saúde para centros de educação infantil. COVISA. Julho de 2008.
  • REVISTA CRESCER. Escarlatina, entenda o que é. [internet], Revista Crescer, editora Globo, 2013. Acesso em: 04/09/2016.
  • SANTOS. V.P. Estreptococcias. Jornal de Pediatria (São Paulo), 75, supl. 1, 1999.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Escarlatina. [internet], Disponível em: https://www.sbp.com.br. Acesso em: 05/09/2016.