COMO TRATAR ASSADURAS – DERMATITE DE FRALDA?

 

1. O que é assadura ou dermatite de fraldas?

2. Causas das assaduras ou dermatite de fraldas

3. Prevenção de assaduras e dermatite de fraldas

4. Frequência da troca de fraldas

5. Capacidade de absorção das fraldas

6. Controle de infecções

7. Higiene

7. Preparações que devem ser evitadas

8. Tratamento das assaduras ou dermatite de fraldas

 

1. O que é assadura ou dermatite de fraldas?

 

A dermatite de fralda, popularmente chamada de assaduras na criança, é um termo não específico que descreve diversas reações inflamatórias que podem ocorrer na pele da criança coberta pela fralda.

A dermatite de fralda mais prevalente, nos países desenvolvidos é chamada de Dermatite de Fralda Irritativa Primária – DFIP, constituindo uma fonte significativa de desconforto para criança.

Caracteriza-se por lesões eritematosas (avermelhadas), brilhante, que varia de intensidade ao longo do tempo. Pode estar associada a edema (inchaço) e leve descamação. Atinge tipicamente as regiões de maior contato com a fralda incluindo as nádegas, a região perianal, os órgãos genitais, as coxas e a cintura. É um dos distúrbios cutâneos mais comuns em neonatos e lactentes, com uma prevalência entre 7 e 50%.

                                                                       

                   

 

 

 

 Dermatite na área de fralda irritativa primária
 Fonte: Fernandes, Machado e Oliveira, 2009

 

A intensidade das alterações cutâneas (na pele) da dermatite da área da fralda varia de leve, moderada a grave.

Essa condição causada pela dermatite pode alterar o pH da pele, isso poderá desencadear o desenvolvimento de infecções oportunistas de origem bacteriana, fúngica ou viral.

Existe um subtipo menos frequente da dermatite de fralda irritativa primária conhecido como “Dermatite de Jacquet”, é uma forma incomum e grave de dermatite que se desenvolve pela persistência e intensidade do agente agressor, associação a fatores agravantes (irritantes tópicos ou fungos), ou por manejo (cuidado) inadequado.

 

assadura
Dermatite de Jacquet – com ulcerações ovais de fundo raso na região das nádegas
Fonte: Fernandes, Machado e Oliveira, 2009

 

2. Causas das assaduras ou dermatite de fraldas

 

No desenvolvimento da dermatite da fralda irritativa primária, alguns fatores devem ser considerados:

 

 


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Fralda

Apesar do nome “Dermatite de Fralda”, a fralda por si só raramente ou nunca está implicada no desenvolvimento de dermatites em crianças. Isso deve-se a melhora da qualidade das fraldas que ocorreram nos últimos anos.

Atualmente há disponível no mercado fraldas superabsorventes com capacidade de absorção muito significativa, o que favorece muito os cuidados de higiene.

As fraldas são constituídas de 3 camadas:

1 – Camada interna que funciona como filtro

2 – Camada intermediária de absorção de líquidos

3 – Camada externa a prova de água

Essa última camada aumenta a perspiração e isso favorece o aumento de temperatura e umidade local, o que poderá facilitar o surgimento da dermatite.

 

Camadas da fralda

 

A fralda ideal deveria ter uma boa capacidade de conter água, permitir um bom arejamento e mudar de cor após a criança urinar.

Existe um protótipo construído na Universidade de Tóquio, pelo professor Takao Someya, que detecta umidade, pressão e temperatura da fralda e avisa a necessidade de troca.

Conheça a matéria completa deste protótipo aqui!

 

 

Takao Someya, professor da Universidade de Tóquio, segura seu invento: A primeira fralda com sensor orgânico que avisa quando precisa ser trocada
Fonte: AFP Photo/Yoshikazu Tsuno

 

Fricção

A fricção da pele-pele ou pele-fralda durante os movimentos da criança, não é um fator dominante, mas é um fator predisponente para dermatite de fralda.

Hidratação

Apesar das fraldas modernas conterem material absorvente que reduz a umidade significativamente, o ambiente quente e úmido não foi completamente eliminado. Essa condição poderá favorecer uma hiper-hidratação responsável pela maceração da pele, favorecendo a proliferação de microrganismos.

Temperatura

A fralda dificulta a perspiração da pele, levando a um aumento de temperatura no local, isso levará a uma vasodilatação (aumento do calibre dos vasos) e consequentemente a uma inflamação.

Irritantes químicos

Alguns óleos, hidratantes e pomadas possuem efeito tóxico sobre a pele.

Os resíduos químicos ou detergentes de lavagem presentes nas fraldas, os sabões, ou mesmo alguma loção que tenha sido aplicada diretamente na pele podem também ser consideradas substâncias potencialmente irritantes.

É preciso observar se a criança apresenta sensibilidade a determinados componentes químicos, e se atentar a faixa etária mínima para uso de determinados produtos.

Microrganismos

Quando a pele tem suas barreiras de defesa lesadas por qualquer mecanismo, está sujeita à infecção secundária, a dermatite na área da fralda favorece essa perda de barreira e pode comumente estar associadas a fungos como Candida albicans, a a microrganismos da flora cutânea ou intestinal.

Fezes e urina

 

A ureia é um composto orgânico eliminado através da urina,  esta substância é convertida em amônia pelas bactérias e eleva o pH da pele o que favorece o agravamento da dermatite de fralda, em uma pele previamente lesionada.

As fezes das crianças contêm quantidades importantes de enzimas digestivas que, quando em contato prolongado com a superfície cutânea coberta pela fralda, causam alterações importantes na barreira epidérmica. Uma das situações que evidencia esse fato é a diarreia, em que o contato com as fezes é prolongado.

Observação: o uso de alguns antibióticos por via oral poderá alterar a flora intestinal, favorecendo a ocorrência de diarreias e consequentemente dermatites de fralda.

 

3. Prevenção de assaduras e dermatite de fraldas

 

Um artigo publicado em 2018 no International Journal of Dermatology intitulado Diagnosis and management of diaper dermatitis in infants with emphasis on skin microbiota in the diaper area, Pogacar e colaboradores descreveram o tratamento e a prevenção deste tipo de afecção cutânea. Vamos descrever as principais recomendações.

Um fator importante, não somente na prevenção da dermatite de fralda como no seu tratamento, é a educação e o apoio dos pais. A dermatite de fralda por irritante primário é uma condição evitável, e é de extrema importância que os pais aprendam maneiras comuns de diminuir a probabilidade da condição, através de higiene adequada, de meios para restaurar uma pele saudável e através da prevenção de dermatite de fralda de repetição.

A prevenção e o tratamento da dermatite de fralda englobam um conjunto de medida que têm como objetivo principais:

  • Manter a área seca
  • Limitar a mistura e dispersão da urina e das fezes
  • Reduzir o contato com a pele
  • Evitar irritação e maceração
  • Manter, sempre que possível o pH ácido

 

4. Frequência da troca de fraldas

 

Devem-se trocar as fraldas sujas de urina com frequência, a fim de que a capacidade de absorção não seja superada, evitando contato da urina com a pele.

As fraldas com fezes precisam ser trocadas imediatamente. Em recém-nascidos, a troca deve ser horária, e nas outras crianças com três a quatro horas de intervalo.

Idealmente, um bebê com dermatite de fralda deve ter períodos de descanso sem fralda, expondo a pele danificada ao ar, reduzindo o tempo de contato entre a pele e a urina, fezes, umidade e outros irritantes.

 


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5. Capacidade de absorção das fraldas

 

Atualmente, a maioria das fraldas comercializadas contém material acrílico em gel superabsorvente, eficaz em manter a área da fralda seca e em meio ácido.


Algumas fraldas mais modernas são compostas de substâncias capazes de sequestrar líquido em até 80 vezes seu
peso molecular, como é o caso do poliacrilato de sódioque se transforma em gel (geleificação).

Apesar dessas especificações, a fralda descartável determina efeito oclusivo maior do que o das fraldas de pano, não eliminando o contato pele/fezes. Por isso não se deve estimular os pais a manter a mesma fralda por períodos mais longos.

 

6. Controle de infecções

 

A Candida albicans, é comumente frequente na dermatite de fralda,  é preciso considerar essa infecção em dermatites com mais de 3 dias de duração.

Neste caso uma consulta com o pediatra pode ser indicada para avaliação da condição e prescrição de medicamentos tópicos com antifúngicos.

 

7. Higiene diária

 

A higiene da pele da área da fralda apenas com água morna e algodão, sem recorrer a sabonetes, é suficiente na limpeza diária da urina. Desse modo, é desnecessário lavar com sabão toda vez que a criança urinar, o que ocorre numerosas vezes ao dia, pois pode acarretar dermatite de contato pelo sabão.

Para limpeza das fezes é recomendado o uso de sabonetes específicos para bebês, que devem ser utilizados durante todo o primeiro ano de vida, porque são atóxicos, não contêm álcool, corantes, desodorantes e outros produtos que podem aparecer em sabonetes comuns para adultos.

O banho dos bebês deve ser dado com água morna (37°C a 40°C) em pequena quantidade para manter uma superfície ácida na pele, que é essencial para a manutenção da microbiota normal, fornecendo proteção antimicrobiana contra invasão por bactérias patogênicas e leveduras.

Lenços umedecidos devem ser utilizados apenas em casos de locomoção, pois possuem componentes em sua formulação, que em contato continuado com a pele, pode lesar a barreira cutânea, provando dermatite de contato.

No entanto, com o avanço da tecnologia, muitos lenços umedecidos são fabricados com soluções oleosas ou aquosas e constituídos por um “não-tecido” enriquecidos em soluções emolientes próprias para pele sensível. Muitos trabalhos apontam boa tolerabilidade da pele do bebê a lenços umedecidos (Sociedade Brasileira de Pediatria, 2015).

Cremes Barreira: Para evitar a umidade excessiva da pele é indicado a utilização de cremes de barreira contendo óxido de zinco e/ou petrolato formam um filme lipídico na superfície da pele e minimizam o contato da pele com urina e fezes. Estes cremes reparam o estrato córneo e protegem a pele contra a dermatite da fralda. Outras aplicações tópicas úteis incluem pomadas de vitamina A e D, dexpantenol e solução de Burow, uma mistura de acetato de alumínio na água. 

Atenção: esses cremes e pomadas não são facilmente removidos com água, mas sim com óleos, e não devem ser removidos a cada mudança de fralda para não irritar a pele.

Sua utilização pode ser dispensada se as medidas de higiene e troca de fraldas forem executadas com frequência. Além disso, alguns aditivos, conservantes e aromatizantes presentes nos cremes protetores podem ter
efeito de oclusão, levando, indesejavelmente, à dermatite da área das fraldas.

 


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8. Preparações que devem ser evitadas

 

Preparações com ácido bórico e pó talco (pó de amido) devem ser evitados pelo risco de toxicidade e de desenvolvimento de granulomas.

Tratamentos caseiros como clara de ovo e leite podem ser alergênicos.

 

9. Tratamento das assaduras ou dermatite de fraldas

 

Para dermatite de grau leve:

  • A troca frequente de fraldas, a cada 1 a 3 horas, é essencial para o tratamento, pois ajuda a reduzir a quantidade de tempo em que a pele está em contato com a umidade e com substâncias irritantes;
  • Utilizar fraldas superabsorventes;
  • Evitar fraldas de pano, que permitem maior contato da pele com urina e fezes;
  • Para remover resíduos de pomadas de óxido de zinco e fezes aderidos a pele, utilizar um algodão embebido em óleo (mineral ou vegetal) e só depois proceder a lavagem com sabonetes específicos para bebês;
  • A área da fralda deve ser cuidadosamente lavada com água morna e com uma pequena quantidade de produto de limpeza suave com pH levemente ácido a neutro;
  • Deve-se ter cuidado para evitar fricção, limpando, enxaguando e secando suavemente a área da fralda, para minimizar traumas adicionais na pele;
  • O uso de preparações tópicas de barreira como terapia de primeira linha é geralmente suficiente. Cremes de barreira contendo óxido de zinco e/ou petrolato formam um filme lipídico na superfície da pele e minimizam o contato da pele com urina e fezes. Estes cremes reparam o estrato córneo e protegem a pele contra a dermatite da fralda. Outras aplicações tópicas úteis incluem pomadas de vitamina A e D, dexpantenol e solução de Burow, uma mistura de acetato de alumínio na água. Cremes usados para o tratamento da dermatite de fralda moderada também costumam conter ingredientes como óleos minerais, Aloe Vera e cera para fornecer uma proteção adequada à pele.

 

Persistência do eritema (vermelhidão):

 

  • Neste caso o tratamento passa a ser médico, necessitando de avaliação do pediatra.
  • Comumente é associada pomada de corticoide tópico de baixa potência no máximo duas vezes por dia, a fim de aliviar a inflamação.
  • Esses medicamentos tópicos possuem efeitos colaterais sistêmicos (no corpo todo), pois a superfície de aplicação na área de dermatite de fralda é significativa (grande área de absorção), por isso é importante avaliação médica.

 

Persistência do eritema e presença de pústulas (conteúdo da pele com pús):

 

  • Essa situação indica a presença de Candida albicans, também indica necessidade de avaliação médica.
  • Normalmente é prescrito creme com ação antifúngica como cetoconazol e nistatina ou nitrato de miconazol.
  • O corticoide tópico (na pele) pode ser revesado com o antifúngico tópico aplicando-se antes do creme de barreira.
  • Em casos mais graves a nistatina oral pode ser indicada com dose permitida para idade.
  • Em infecções bacterianas, que são mais raras, pode ser necessário o uso de medicamentos tópicos com antibióticos como neomicina, gentamicina e mupirocina.

 

Atenção

Se a dermatite persistir mesmo com o tratamento adequado, é necessário pesquisar diagnósticos diferenciais (outras situações que podem ocorrer na pele), como dermatite atópica, dermatite seborreica, psoríase na área da fralda entre outras. Necessitando de investigação mais ampla para diagnóstico correto e tratamento adequado.

 


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Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura

 

 

Publicado em: 04/04/2015

Revisado em: 15/04/2017

 

REFERÊNCIAS:

  • Sociedade Brasileira de Pediatria. Consenso de cuidado com a pele do recém-nascido, SBP, 2015.
  • Pogacar, M. S. et al. Diagnosis and management of diaper dermatitis in infants with emphasis on skin microbiota in the diaper area. International Journal of Dermatology, v.57, n.3, p.265-275, 2018. Diponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/28986935/
  • Castro. R. E. V. Dermatite de fraldas em crianças: como fazer prevenção e tratamento? PEBMED, 2019. Disponível em: https://pebmed.com.br/dermatite-de-fraldas-em-criancas-como-fazer-prevencao-e-tratamento/