MENINGITE NA ESCOLA, O QUE O PROFESSOR E PAIS PRECISAM SABER?

 

1. O que é meningite? 

2. Meningite bacteriana

3. Sinais e sintomas da meningite bacteriana

4. Meningite viral

5. Diagnóstico da meningite

6. Transmissão da meningite

7. Medidas para prevenção da meningite 

8. Curiosidade

 

Crianças estão mais susceptíveis a adquirir infecções, especialmente dentro de ambientes escolares, onde o risco está associado as características ambientais, e aos hábitos que facilitam a disseminação de doenças como levar mãos e objetos à boca, contato com outras crianças, uso de fraldas, imaturidade do sistema imunológico e vacinação incompleta.

As doenças mais comuns com risco aumentado de transmissão em unidades escolares são: gripes, resfriados, infecções do ouvido, meningites, diarreia, hepatite viral tipo a, citomegalovírus, herpes simples, escabiose (sarna) e pediculose (piolho).

Medidas simples de prevenção poderão ser adotadas para prevenir a transmissão destas doenças e serão discutidas à seguir.

 

1. O que é meningite?

 

Como o próprio nome já indica, a meningite é um processo inflamatório (do grego itis ou ite=inflamação) das meninges, isto é, membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal. Pode ser causada por diversos agentes infecciosos, como bactérias, vírus, fungos e protozoários.

Porém, as infecções bacterianas e virais são as mais graves, devido a capacidade de ocasionar surtos e, no caso da meningite bacteriana, o agravamento dos casos principalmente em crianças.

No Brasil, a meningite é considerada uma doença endêmica, isto é, que é peculiar ao nosso país, que faz parte da nossa característica local. Sendo assim, casos da doença são esperados ao longo de todo o ano, ocorrendo surtos e epidemias ocasionais. O mais comum é a ocorrência das meningites bacterianas no inverno e as virais no verão.

Os grupos de crianças mais susceptíveis a adquirir a meningite são:

  • Bebês, especialmente aqueles com menos de dois meses de idade onde o sistema imunológico não está bem desenvolvido e as bactérias podem entrar na corrente sanguínea mais facilmente.
  • Lactentes (fase de amamentação) até um ano de idade.
  • Crianças com recorrência de sinusite.
  • Crianças com cirurgia recente no cérebro.

 

Considerando a gravidade do assunto e que 50% das ocorrências se concentram na faixa etária entre 0 e 5 anos, a Sociedade Brasileira de Pediatria chama a atenção para alguns aspectos importantes, como a necessidade de atenção redobrada aos lactentes, que integram o grupo de maior risco.

 


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2. Meningite bacteriana:

 

A suspeita da meningite causada por bactéria é considerada uma emergência médica e deve ser tomada uma ação imediata para identificar o agente causador e iniciar o tratamento.

As principais bactérias causadoras de meningite na infância são:

  • Hemófilus influenza b (hib)
  • Pneumococo
  • Meningococo

 

Vacinas contra essas bactérias atenuadas já fazem parte do calendário do ministério da saúde:

Meningite na escola, o que o professor e pais precisam saber?
CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO SBIm CRIANÇA
Recomendações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) – 2019/2020

 

3. Sinais e sintomas da meningite bacteriana:

 

A manifestação da meningite bacteriana poderá variar de acordo com a faixa etária da criança ou adolescente, sendo os mais comuns:

  • Dor de cabeça
  • Vômitos
  • Má alimentação
  • Choro
  • Hipotermia (queda da temperatura) ou febre: dependendo da maturidade do bebê
  • Rigidez de nuca (dificuldade de dobrar o pescoço para frente)
  • Irritabilidade
  • Agitação
  • Fotofobia (sensibilidade a luz)
  • Delírio
  • Tonturas

 

E, em casos graves, manchas vermelhas na pele que podem sugerir infecção meningocócica e drenagem auricular (do ouvido) que pode sugerir infecção pneumocócica.

Meningite na escola, o que o professor e pais precisam saber?
Petéquias e púrpura em caso de meningite bacteriana
Fonte: Newshealthy

 

As crianças menores de um ano podem apresentar além da febre, falta de apetite, apatia, choro agudo e persistente, irritabilidade, e rigidez corporal com ou sem convulsões.

É uma doença que pode evoluir para um quadro muito grave desde alterações menos evidentes como problemas cognitivos e comportamentais, podendo evoluir para acometimentos neurológicos, perda auditiva, convulsões, déficits motores, hidrocefalia, retardo mental e até a morte.

A avaliação precoce dos sinais e sintomas pelo médico é muito importante, pois quanto mais cedo for iniciado o tratamento mais chance de sucesso na recuperação.

 

4. Meningite Viral:

 

Também conhecida como meningite asséptica, é causada por muitos vírus diferentes, incluindo o arbovírus (vírus transmitidos através dos insetos), vírus da herpes simples, citomegalovírus, e os enterovírus (vírus que habitam os intestinos), são os mais comuns causadores de meningite viral.

Os sinais e sintomas são semelhantes aos da meningite bacteriana, porém a duração é mais curta e costumam não apresentar qualquer complicação.

A criança também poderá permanecer em ambiente “isolado” no hospital por precaução até que se descarte a possibilidade de ser meningite bacteriana.

Os recém-nascidos e bebês podem ficar irritados, vomitar, alimentar-se mal ou parecerem letárgicos (falta de energia), ou não responder aos estímulos. Também podem apresentar a fontanela (moleira) protuberante ou reflexos anormais.

 

5. Diagnóstico da meningite:

 

O diagnóstico é realizado através da punção lombar (onde aspira-se o líquor da medula espinhal) e coleta de sangue. Através destas avaliações é possível determinar não só a existência de meningite, como também a sua causa (viral, bacteriana, fúngica, protozoários).

Com o diagnóstico e tratamento imediato, sete em cada dez crianças com meningite bacteriana recuperam-se sem qualquer complicação. No entanto, lembre-se que a meningite é uma doença potencialmente fatal, e cerca de dois em cada dez casos, pode levar a graves problemas do sistema nervoso, surdez, convulsões, paralisia dos braços ou pernas, ou dificuldades de aprendizagem. Devido à evolução de a meningite progredir rapidamente, esta deve ser detectada mais cedo possível e tratada precocemente.

 


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6. Transmissão da meningite:

 

A transmissão ocorre pela via respiratória de uma pessoa a outra, através da tosse, espirros e contato com materiais que tenham sido expostos às secreções corpóreas contaminadas.

Devemos nos atentar que a transmissibilidade fecal-oral também pode ocorrer na meningite viral.

 

7. Tratamento da meningite:

Meningite bacteriana:

O tratamento da meningite dependerá do agente infeccioso.

Para a meningite bacteriana é necessária a internação hospitalar imediata para realizar o tratamento com antibióticos específicos, administração de fluidos e observação cuidadosa das complicações.

Meningite viral:

Já na meningite viral, não são necessários antibióticos e, muitas vezes, não há internação.

O tratamento é focado no controle dos sintomas geralmente com antitérmicos (redução da febre) e antieméticos (alívio de enjoos, náuseas e vômitos). O quadro torna-se mais preocupante em crianças menores de 3 meses de idade.

 

8. Medidas de prevenção para meningite:

Essas medidas também se aplicam para prevenir a transmissão de outras doenças comuns em unidades escolares, são medidas simples que quando instituídos promovem um ambiente escolar mais seguro e saudável para crianças e adolescentes:

Sempre solicitar carteira atualizada de vacinação dos alunos:

Os lactentes que iniciam o esquema vacinal entre 2 e 5 meses devem receber três doses, com intervalos de pelo menos dois meses entre elas, e um reforço aos 12 meses.

Se as aplicações começarem no período dos 6 aos 11 meses, serão necessárias apenas duas doses, com dois meses de intervalo, e um reforço no segundo ano de vida.

Vale o mesmo para crianças de 1 a 10 anos, mas sem necessidade de reforço, assim como para adolescentes e adultos, com a diferença de que, para eles, o intervalo é de apenas um mês entre as aplicações.

Sempre que possível a escola deverá informar sobre as campanhas de vacinação e incentivar a adesão pelos familiares.

Higienização das mãos é a medida mais econômica e simples na prevenção de doenças, e deve ser realizada com técnica adequada, conheça o passo-a-passo recomendado pela Anvisa aqui:

Confira um vídeo de demonstração da técnica correta de retirada das luvas de procedimento:

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Quando as mãos devem ser higienizadas na unidade escolar?

  • Ao chegar ao trabalho;
  • Antes de preparar os alimentos;
  • Antes de alimentar as crianças;
  • Antes das refeições;
  • Antes e após cuidar das crianças (troca de fralda, limpeza nasal, etc.);
  • Após tocar em objetos sujos;
  • Antes e após o uso do banheiro;
  • Após a limpeza de um local;
  • Após remover lixo e outros resíduos;
  • Após tossir, espirrar e/ou assuar o nariz;
  • Ao cuidar de ferimentos;
  • Antes de administrar medicamentos;
  • Após o uso dos espaços coletivos

 


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Ensinar as crianças a lavar as mãos:

 

  • Antes das refeições;
  • Após o uso do sanitário;
  • Após brincar com areia, terra, na horta, com tinta ou em outras situações em que as mãos possam estar sujas.

 

Crianças do berçário devem ter suas mãos lavadas por um adulto, o que poderá ocorrer no momento da troca de fraldas (assim elas poderão associar desde muito cedo que é preciso lavar as mãos após fazer xixi o cocô). Outro momento é antes de oferecer os alimentos.

Enviar modelo de circular para os familiares dos alunos com orientações básicas sobre a doença, especialmente sinais e sintomas:

E reforçar sempre que possível que crianças doentes não deverão ser deixadas na escola, pois trata-se de um ambiente coletivo e seu afastamento durante esse período diminui a chance de transmissão de doenças para as outras crianças.

Manter os ambientes bem arejados, iluminados e limpos, além de pausar o uso do ar condicionado a cada 2 horas (ou antes) e permitir a circulação do ar.

Orientar os educadores a promover mais atividades ao ar livre no período em que houver doença confirmada na escola.

Escalonar as turmas para o recreio e refeições com o propósito de reduzir o número de crianças em um mesmo espaço.

Solicitar atestado de retorno do aluno para escola, quando houver confirmação de doença transmissível.

Instituir protocolo de higienização de colchões e travesseiros (conforme recomendações da Vigilância Sanitária):

Colchões e travesseiros deverão ter revestimento impermeável que facilite a limpeza e desinfecção com álcool 70% a cada turno, ou após o contato com fluídos corpóreos (retirar excesso com papel toalha, limpeza com água e sabão e desinfecção com álcool 70%).

Instituir protocolo de higienização de brinquedos (conforme recomendações da Vigilância Sanitária):

Os brinquedos deverão ser de material de fácil limpeza e desinfecção, deverão ser colocados em local separado após a utilização (local exclusivo para brinquedos sujos). Só poderão retornar para brincadeiras os brinquedos que forem higienizados com água e sabão com escova de uso exclusivo, deixados expostos para secar sob superfície protegida com papel toalha e então acondicionados na caixa de brinquedos limpos

Instituir protocolo de higienização de banheiras (conforme recomendações da Vigilância Sanitária):

As banheiras deverão ser higienizadas com água e sabão após cada uso, depois de secas deverá ser aplicado álcool 70% com papel toalha.

Os bebedouros deverão ser lavados diariamente com água e sabão e utilizada solução para desinfecção conforme recomendação do fabricante.

Sempre que possível desativar o disparo de água do bebedouro para boca e incentivar o uso de garrafinha individual.

Notificar a Unidade Básica de Saúde referência da escola, os casos confirmados e solicitar orientações.

Orientar os familiares e equipe escolar a procurar atendimento médico caso tenham sinais/sintomas ou tenham entrado em contato com pessoas contaminadas. Dependendo do tipo de meningite poderá ser necessária a profilaxia com antibióticos:

Ao entrar em contato com pessoas contaminadas é importante realizar uma avaliação médica, pois poderá ser recomendado iniciar tratamento profilático (tratamento preventivo) com antibióticos nas primeiras 24 horas (quando tiver contato com pessoas contaminadas com a meningite bacteriana). A profilaxia reduz em 95% a chance de infecção.

Orientar os familiares e equipe sobre os sinais e sintomas para rápida identificação dos casos suspeitos:

É muito importante que familiares e cuidadores de crianças conheçam os sintomas da meningite, para poder intervir de forma rápida e encaminhar a criança para avaliação médica.

 


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9. Curiosidade

 

Todos os casos suspeitos ou confirmados de meningite devem ser notificados às autoridades competentes, por profissionais da área de assistência, vigilância, e pelos de laboratórios públicos e privados, através de contato telefônico, fax, e-mail ou outras formas de comunicação. A notificação deve ser registrada no sistema de informação de agravos de notificação (sinan), por meio do preenchimento da ficha de investigação de meningite.

 

Confira um vídeo explicativo que poderá ser utilizado para levar o tema para sala de aula, onde é tratada a importância da vacinação para prevenção da meningite :

 

 

 

Meningite na escola, o que o professor e pais precisam saber?

Maíra Bassi Strufaldi

Enfermeira e Fisioterapeuta, Pós-Graduada em Ortopedia e Traumatologia, Educadora em Diabetes e Facilitadora de Formação da Creche Segura

 

 

Meningite na escola, o que o professor e pais precisam saber?

Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde, Responsável Nacional pelo Programa Escola Segura

 

 

 

Artigo publicado em: 09 de julho de 2016

Artigo atualizado em: 17 de setembro de 2019

 

 

Referências

  • AMERICAN ACADEMY OF PEDIATRICS. MENINGITIS. Disponível em: https://www.aap.org. Acesso em: 03/07/2016.
  • ANTONIUK, S.A. et al. Meningite bacteriana aguda na infância: fatores de risco para complicações agudas e sequelas. Jornal de pediatria (rio de janeiro), 87(6): 535-40 2011.
  • Centro de vigilância epidemiológica. Protocolo laboratorial meningites virais. Centro de Vigilância Epidemiológica; 2017.
  • MANTESE, O.C. et al. Perfil etiológico das meningites bacterianas em crianças. Jornal de pediatria (rio de janeiro), 78(6): 467-74 2002.
  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância de A-Z. Meningite. Ministério da Saúde, 2019.
  • SECRETARIA DE VIGILÂNCIA EM SAÚDE. Meningite bacteriana não especificada no Brasil 2007 – 2016: desafio para a vigilância das meningites. Ministério da Saúde, 2016.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Meningite. SBP. Acesso em: 03/07/2016.
  • DEPARTAMENTO CIENTÍFICO DE PEDIATRIA AMBULATORIAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Meningite. SBP. Acesso em: 03/07/2016.
  • AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Orientações da Vigilância Sanitária para Instituições de Educação Infantil, Prefeitura de Belo Horizonte, 2013.
  • AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Técnica de higienização das mãos. ANVISA, 2015.
  • MARANHÃO, D. G.; VICO, E. S. R. Um ambiente seguro e saudável na Educação Infantil. Rev Avisalá, ed. 22, 2005.
  • SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE DIADEMA. O cuidar na escola de educação infantil: Manual de orientação aos profissionais das escolas de período integral, Prefeitura do Município de Diadema, 2012.