TRAUMA NA CABEÇA, O QUE É PRECISO SABER?

 

1. Como ocorre o trauma na cabeça?

2. O que é concussão?

3. O que a escola precisa fazer para prevenir traumas na cabeça?

4. Se todas as medidas de prevenção foram tomadas e o trauma na cabeça ocorrer, o que precisa ser feito?

5. O que deverá ser observado após o trauma na cabeça?

6. A criança pode dormir depois de um trauma leve na cabeça?

7. O que deverá ser feito após trauma moderado a grave na cabeça?

8. O que não deve ser realizado em casos de trauma na cabeça?

 

Trauma na cabeça é um assunto de extrema relevância, devido as graves consequências que pode trazer para as crianças, adolescentes e mesmo para os adultos, sendo comum no ambiente escolar, devido à brincadeiras, quedas e práticas esportivas. Quando escutamos que alguma criança caiu, a primeira pergunta que fazemos é: Ela bateu a cabeça?

 

1. Como ocorre o trauma na cabeça?

 

No ambiente escolar, as principais causas de traumatismo cranioencefálico (TCE) são as quedas, especialmente de lugares altos e as pancadas na cabeça, que podem ocorrer quando o escolar bate a cabeça em móveis, brinquedos do playground, parede ou porta, ou mesmo durante brincadeiras ou atividades esportivas.

O TCE é uma das causas mais comuns de trauma em crianças, e nos casos mais graves, é responsável por alto índice de internação hospitalar, com significativa taxa de mortalidade e sequelas.

Ocorre frequentemente na população pediátrica e na maioria dos casos é leve, não necessitando de exames complementares e nem de tratamento especializado.

Vale ressaltar, que crianças pequenas, menores de dois anos, possuem o tamanho da cabeça com grande proporção em relação ao corpo, assim, toda vez que a criança cai, a cabeça é projetada mais facilmente, por ser mais pesada, o que provoca mais traumas nesta região.

Então podemos dizer que, Traumatismo Craniano Encefálico, é o nome técnico que se dá quando a criança cai e bate a cabeça.

O TCE compreende desde as lesões do couro cabeludo até aquelas da caixa craniana (ossos do crânio) ou do seu conteúdo (o encéfalo).

Qualquer pessoa que tenha sofrido um acidente com trauma na cabeça, pescoço ou queda deve ser considerada como possível portador de lesão raquimedular (lesão na coluna) até que seja descartada a lesão.

 

2. O que é concussão?

 

A Concussão é um tipo de lesão cerebral, decorrente de um traumatismo, que pode ser causado por uma colisão, choque ou trauma na cabeça, fazendo com que o cérebro se mova rapidamente para frente e para trás “chacoalhão na cabeça”.

Essa condição pode levar a sintomas temporários como dor de cabeça, perda de memória, confusão, falta de equilíbrio, náusea, vômito, tontura, sonolência e cansaço. Nesses casos o repouso físico e mental, é de fundamental importância para a recuperação cerebral.

No ambiente escolar, a concussão ocorre principalmente, em aulas de Educação Física, recreio ou outras atividades esportivas nas escolas. Dados norte-americanos, entre os anos de 2001 e 2009, mostram o número de atendimentos relacionados ao esporte e lazer com diagnóstico de concussão ou trauma na cabeça: aumentou de 57% em menores de 19 anos e mais da metade dos atendimentos (55%) causados por queda em crianças de zero a 14 anos.

Em 2019 foi realizado um estudo que identificou a redução do número de concussões no ensino médio durante as práticas esportivas nas escolas durante os 6 últimos anos. Isso pode ser explicado pelo maior entendimento das medidas preventivas, do diagnóstico precoce e tratamento.

Se as concussões não forem detectadas precocemente, podem resultar em danos cerebrais a longo prazo e, em casos mais graves, levar a morte. A melhor maneira de evitar complicações é a prevenção da concussão. 

 

 


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3. O que a escola precisa fazer para prevenir traumas na cabeça?

 

Segurança no ambiente escolar:

  • Os profissionais nas escolas precisam estar aptos a identificar situações de risco e garantir ambientes seguros, além de conscientizar os alunos sobre hábitos seguros;
  • É importante dispor de uma equipe responsável por avaliar de forma regular, todos os espaços frequentados pelos alunos (salas de aula, playground, espaços de recreio, banheiros etc.), detectando situações de risco e providenciado reparos quando necessários, além da manutenção periódica;
  • A equipe escolar deve favorecer a conscientização e a mobilização da comunidade na construção de ambientes e situações de proteção, inclusive no entorno da escola, como por exemplo mudanças no fluxo de veículos, iluminação adequada, solicitação de redutores de velocidade dos carros, entre outras, pois o ambiente escolar é considerado privilegiado e seguro (previsto na Lei 14.492/07 em São Paulo e existente em outros Estados também);
  • Escadas e corredores deverão possuir pisos antiderrapantes, corrimão e degraus com largura mínima de 30 cm e altura máxima de 16 cm, além de rampas com declive suave (evitar corridas e brincadeiras nestes locais);
  • Instituir redes de proteção em vãos das escadas, janelas e lugares altos, para reduzir o risco de quedas;
  • Sinalizar adequadamente portas de vidro (na altura das crianças) e evitar brincadeiras nestes locais.

 

4. Segurança durante as práticas esportivas e de recreação:

 

  • Ensinar as crianças e adolescentes a respeitar as regras de cada esporte para prevenir lesões.
  • Incentivar o uso de equipamentos de segurança apropriados para cada esporte, como caneleiras, chuteiras, capacetes, além de roupas adequadas.
  • Promover a segurança ambiental: evitar desníveis nas quadras, utilizar superfícies confeccionadas com materiais que absorvam impacto no momento de quedas, proteger estruturas arquitetônicas que possam oferecer riscos durante as atividades.
  • Incentivar a construção de locais de recreação que permitam a supervisão adequada e a segurança das crianças e dos adolescentes.
  • Organizar atividades de recreação respeitando a faixa etária, e se necessário adotar horários diferentes para acesso ao pátio ou parque.

 

5. Curiosidade

 

É muito comum crianças chegarem ao pronto socorros após um trauma na cabeça (leve), com episódios de vômitos, é importante observar que isso não significa que tenha evoluído para um problema mais sério (como hipertensão intracraniana), pode ter ocorrido apenas uma “comoção labiríntica”, conheça as diferenças:

  • Comoção labiríntica: caracteriza-se por episódios recorrentes de vômitos associados à palidez cutânea e a sonolência. Após um breve período de sono (15 a 30 minutos) as crianças e adolescentes apresentam comportamento normal;
  • Hipertensão intracraniana: é o aumento de pressão dentro da cabeça, e sua principal manifestação na faixa pediátrica é a sonolência persistente, torpor (diminuição da sensibilidade e movimento) alterações da visão e vômitos.

 

6. Se todas as medidas de prevenção foram tomadas e o trauma na cabeça ocorrer, o que precisa ser feito?

 

O atendimento a um trauma na cabeça poderá variar de acordo com a gravidade da lesão, observe abaixo as recomendações:

Trauma na cabeça leve:

No TCE leve não há perda de consciência, ou ela tem duração muito breve (menos que 1 minuto), na maioria dos casos a criança ou adolescente ficam apenas atordoados nos minutos que seguem o trauma.

O que deve ser feito inicialmente em caso de TCE leve:

  • Colocar a criança deitada de lado, com a cabeça e pescoço alinhados, pois pode ocorrer vômitos, dor de cabeça e sonolência.
  • Certificar-se de que a criança/adolescente não apresenta dor no pescoço e está consciente.
  • Apalpar delicadamente o couro cabeluda em busca de cortes ou afundamentos.
  • Avaliar as pupilas: estão do mesmo tamanho?
  • Comunicar-se com a criança: responda adequadamente para idade?
  • Se a criança se levantou e veio caminhando até o educador, sua marcha está equilibrada? Dentro do esperado para idade?

Caso apresente alterações em qualquer uma destas avaliações: encaminhar para o serviço de saúde.

 

Na presença de ferimentos:

  • Ao identificar ferimentos na cabeça, comprimir para conter o sangramento com pano limpo ou gaze (utilizar luvas);
  • Ao perceber que o sangramento não está cessando, manter a compressão e acionar o serviço de emergência SAMU – 192 (recomendação da CODEPPS), seguir o protocolo escolar para TCE e acionar os pais.
  • Se a gaze encher de sangue, não substituir por uma nova, apenas colocar novas gazes por cima (se trocar a gaze pode estimular novo sangramento).
  • Se o sangramento cessar, realizar um curativo com gaze e colocar uma faixa (atadura) se necessário para fixá-la, seguir o protocolo escolar para TCE e acionar os pais para encaminhar a criança ao médico. Se ocorreu corte, pode ser necessário que o médico coloque pontos (sutura).

 

Atenção: Não lavar o local do trauma se estiver sangrando, tal medida pode aumentar o sangramento, especialmente em locais como o couro cabeludo, supercílios e região do queixo que possuem muitos vasos sanguíneos, realizar a compressão conforme o passo a passo descrito acima.

 


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7. Na presença de “galo” na cabeça:

 

O galo é formado por sangue e linfa, isso se deve ao rompimento de pequenos vasos sanguíneos localizados abaixo da pele,  que provoca o extravasamento do sangue sobre os ossos do crânio formando um hematoma e o que vemos é uma saliência conhecida como “galo”.

Os seguintes cuidados são necessários na presença de um galo na cabeça:

  • Aplicar compressa fria (coloque cubos de gelo em um saco), e aplique por 15 minutos no local do trauma, sempre coloque uma proteção entre o saco de gelo e a pele para evitar lesões pela ação do frio;
  • Essa medida irá diminui o “extravasamento do sangue” que ocorre devido ao rompimento dos vasos, diminuindo a formação do hematoma e aliviando a dor no local;
  • A aplicação da compressa pode ser repetida após uma hora para aliviar a dor no local e pode ser repetida pelo menos mais 3 vezes durante o dia. Contribuindo, desta forma para redução da dor e do hematoma.
  • Outra medida não farmacológica que a escola poderá adotar é a compressa com chá de camomila no local (após a aplicação de gelo). O extrato da flor de camomila é uma das plantas mais antigas utilizadas pela medicina tradicional europeia, hoje incluída oficialmente nas farmacopeias de quase todos os países.
  • A infusão de chá de camomila deve ser realizada colocando um sachê de chá de camomila em um copo com 180 ml a 200 ml de água em temperatura ambiente. Após observar a coloração amarelada, aplicar o conteúdo em uma compressa (tecido limpo, fralda ou pano macio) e colocar sob o local do trauma por 15 minutos (aplicar novamente após 1 hora). Essa medida colabora com a redução da inflamação no local, da dor e diminuição do hematoma se houver.

 

Observação: Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria somente a observação domiciliar, sob a supervisão de um adulto responsável que compreenda as instruções recomendadas é suficiente nos casos de traumatismos leves na maioria dos casos.

 

8. O que deve ser observado após o trauma na cabeça?

 

  • Observar se ocorre alterações no comportamento como alterações de equilíbrio, presença de náuseas, vômitos, sonolência e aumento do “galo” ou inchaços no couro cabeludo.
  • Se essas alterações forem observadas, deixar a criança/adolescente em repouso sentada ou na posição deitada de lado, evitando movimentação abrupta da cabeça (isso poderá desencadear episódios de náuseas e vômitos).
  • Manter a cabeça alinhada em relação ao corpo.
  • Acionar os pais e providenciar o transporte até o serviço de emergência para avaliação médica.

 

Atenção: segundo recomendações da CODEPPS, o transporte do escolar só deverá ser realizado pelos pais previamente orientados sobre os riscos de movimentação da cabeça, ou pelo serviço móvel de emergência.

 

9. A criança pode dormir depois de um trauma leve na cabeça?

 

Este é o questionamento muito frequente dos pais e cuidadores de crianças, após a ocorrência de um trauma na cabeça.

 

O que é preciso compreender:

Muitas vezes as crianças choram bastante, isso é um bom sinal, pois indica que ela não perdeu a consciência.

No entanto, após o trauma e choro, a criança pode apresentar vontade de dormir, especialmente se estiver próximo ao horário de sono normal.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria não há problemas em permitir que a criança durma após o trauma na cabeça, desde que ela esteja plenamente consciente e sem os sinais de alteração descritos acima.

Mas é importante saber que a supervisão do sono deve ser realizada em intervalos regulares, ou seja, chamar a criança de tempos em tempos durante o período do sono para certificar-se que está consciente.

Se durante o sono a criança apresentar vômitos ou ao chamá-la observar dificuldade em despertar, pode ser necessária a avaliação médica em um pronto-socorro.

Quando ocorrer um trauma leve na cabeça no ambiente escolar: comunicar os pais e alertá-los para que mantenham vigilância por até 72 horas, ou seja, que monitorem o comportamento da criança e seu sono a fim de identificar sinais de alterações e a necessidade de encaminhado para avaliação médica.

 

10. Trauma na cabeça moderado e grave:

 

Em caso de TCE moderado a grave a criança ou adolescente poderá apresentar alteração persistente do nível de consciência em graus variáveis (desde uma confusão mental, agitação até o coma) dependendo da gravidade do comprometimento cerebral.

 

11. O que deverá ser feito após trauma moderado a grave na cabeça?

  • Avaliar o nível de consciência, pulsação e movimentos respiratórios.
  • Acionar o serviço móvel de emergência (SAMU 192 ou Bombeiros 193).
  • Na ausência de movimentos respiratórios ou pulsão o Suporte Básico de Vida deverá ser prestado, por isso é importante conhecer os procedimentos de primeiros socorros iniciais, os quais podem ser realizados por pessoas leigas até a chegada do serviço de emergência.
  • Manter a cabeça da criança/adolescente imóvel, se necessário apoiar com rolos de toalhas ou panos para que não ocorra movimentação até a chegada do serviço emergência.
  • Na presença de ferimento com sangramento, realizar a compressão com pano limpo ou gaze sem promover movimentação da cabeça.
  • Só mudar a posição da criança/adolescente se for extremamente necessário, por exemplo, se a vítima vomitar, porém a mudança de posição deverá ser realizada em bloco para manter sempre a estabilização manual da cabeça.

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Veja uma demonstração do rolamento em bloco no vídeo abaixo:

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O transporte de uma criança/adolescente inconsciente até o hospital deve ser realizado pelo serviço de emergência.

 


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12. O que não deve ser realizado em casos de trauma na cabeça?

 

  • Se suspeitar de lesão na coluna não movimente a criança/adolescente.
  • Nunca retirar objetos encravados no crânio.
  • Se houver afundamento da cabeça, NUNCA tente consertar.
  • Não tentar impedir a saída de líquidos pela orelha ou pelo nariz, mas apenas cobrir com gaze para absorver o fluxo.

 

13. Como diferenciar um trauma leve de um trauma grave?

 

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria a definição exata da extensão de um trauma na cabeça é realizado através de um exame clínico do médico e um de imagem para auxiliar no diagnóstico.

Mas como a maioria dos traumas na cabeça são leves e podem ser tratados de forma conservadora em casa, no momento da sua ocorrência devemos utilizar o bom senso e observar as condições abaixo:

 

  • A criança apresentou mais de um episódio de vômito?
  • Está com alteração no tamanho das pupilas?
  • Está com a fala alterada ou confusa?
  • Está com desequilíbrio para andar?
  • Perdeu a consciência por mais de 1 minuto?
  • A queda foi de uma altura significante?

 

Se respondermos sim a alguma dessas perguntas ou todas, com certeza teremos um sinal de gravidade.

Lembrando que um trauma na cabeça pode aparentar ser leve, ou seja a criança está com comportamento normal, mas após algumas horas poderá apresentar alterações de comportamento demostrando complicações. Por isso, é importante monitorar todas essas questões e o sono da criança durante 72 horas, assim teremos certeza que não ocorreram complicações.

 


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Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura

 

 

Veridiana Ferreira Torres

Enfermeira Especialista em Cardiologia pela Unifesp e Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior

 

 

 

Publicado em: 21/05/2016

Revisado em: 10/12/2021

 

Referências:

 

  • SMELTZER, S.C.; BARE, B.G. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10. ed. v.4. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
  • COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE – CODEPPSManual de prevenção de acidentes e primeiros socorros nas escolas, 2007.
  • WAKSMAN, R. D., GIKAS, R. M. C., BLANK, D. Crianças e adolescentes em segurança. Departamento Científico de Segurança da Sociedade Brasileira de Pediatria, São Paulo, Manole: 2014.
  • SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Conversando com o Pediatra: Quedas. Departamento Científico de Segurança da Criança e do Adolescente da SBP. [Internet], disponível em: Acesso em 20/03/2016.
  • PEREIRA, C. U., OLIVEIRA, D. M. P., LIMA, A. A. O que todo pediatra deve saber sobre traumatismo cranioencefálico leve na infância. Pediatria Moderna, Maio, v.49, n. 5, 2013.