CONVULSÃO NA ESCOLA, O QUE O PROFESSOR PRECISA SABER? 

 

1. O que é convulsão?

2. O que é uma crise convulsiva?

3. Causas e diagnóstico da convulsão

4. Convulsão febril

5. Primeiros socorros em caso de convulsão na escola

6. Recomendações importantes

7. O que não fazer diante de uma crise convulsiva

 

 

Devido ao senso comum, muitas pessoas sabem que uma crise convulsiva é um evento sério e pode acarretar algumas complicações, mas são poucos os indivíduos que conhecem realmente o que acontece no corpo no momento de uma crise convulsiva.

 

São vários os questionamentos que surgem em nossa cabeça:

 

  • Quais são suas causas?
  • Possíveis complicações?
  • Como ajudar uma pessoa em crise convulsiva?
  • O que eu devo e não devo fazer neste momento?
  • A criança com febre pode ter uma crise convulsiva?

 

 

Com o intuito de esclarecer algumas dúvidas sobre esse tema, iremos responder algumas perguntas que são bastante frequentes entre professores e cuidadores no ambiente escolar.

 


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1. O que é convulsão?

 

Conforme um artigo científico publicado pelo jornal de Pediatria, (Casella e Mângia 1999), as crises convulsivas representam a manifestação neurológica mais frequente em crianças nos Prontos Atendimentos hospitalares.

Aproximadamente 80% das crises agudas param antes mesmo da criança chegar ao hospital, dispensando tratamento medicamentoso nessa hora. Porém, em casos mais raros, onde as crises duram mais que cinco minutos, elas podem ser recorrentes e apresentar novos episódios seguidos dentre os primeiros 30 minutos, elevando o risco de complicações.

Segundo a Organização Mundial de Saúde, até 2% da população mundial sofre com epilepsia, doença que se manifesta por crises convulsivas. Nos países em desenvolvimento este número pode chegar a 5% da população, aqui no Brasil estima-se três milhões de casos.

 


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2. O que é uma crise convulsiva? 

 

 A crise convulsiva acontece devido a um aumento excessivo e sem organização da atividade elétrica das células cerebrais, os neurônios. O tipo da crise está relacionado à área do cérebro com a disfunção, as manifestações neurológicas durante a crise, também está diretamente relacionadas com a área do cérebro afetada.

 

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Atividade excessiva e anormal das células cerebrais que desencadeiam a crise convulsiva

Fonte: Google

 

3. Tipos de crise convulsiva

 

 As crises convulsivas ou epilépticas podem se manifestar de várias formas:

Crise convulsiva focal ou parcial: O desarranjo neurológico surge em apenas uma região do cérebro, podem ou não ocorrer alterações do nível de consciência associadas a sintomas psíquicos e sensoriais, como movimentos involuntários em alguma parte do corpo, comprometimento das sensações de paladar, olfato, visão, audição e da fala, alucinações, vertigens, delírios.

Crise convulsiva generalizada: nesse tipo de crise, os dois hemisférios cerebrais são afetados ao mesmo tempo. Existem diversos tipos de convulsões generalizadas, dentre eles, os dois mais frequentes são a crise de ausência (também conhecida como pequeno mal) e a convulsão tônico-clônica (grande mal).

No primeiro tipo de crise convulsiva generalizada, a crise de ausência, a pessoa fica durante alguns segundos com o olhar perdido, ela fica parada, não responde a chamados, quando essa ausência for maior que dez segundos, o indivíduo pode começar a apresentar movimentos automáticos, como piscar os olhos e tremer os lábios, por exemplo.

No segundo tipo, talvez a mais reconhecida entre as pessoas, estão as convulsões tônico-clônicos, situação em que a pessoa fica inconsciente, a crise dura poucos minutos, inicialmente na fase tônica, todos os músculos dos braços, pernas, tronco e abdome, ficam contraídos e estendidos; em seguida a pessoa entra na fase clônica e começa a apresentar contrações rítmicas, repetitivas e sem controle. Durante a crise convulsiva generalizada, a pessoa apresenta salivação intensa, respiração ofegante, mordedura da língua, perda do controle do processo urinário e de defecação.

 

4. Causas e diagnóstico da convulsão

 

As crises convulsivas nem sempre estão associadas a doença Epilepsia, pois são muitos os fatores que também podem desencadear um episódio de crise convulsiva, dentre eles, podemos citar:

 

  • Desidratação
  • Tumores
  • Intoxicação por álcool

 

Para o diagnóstico é imprescindível a avaliação do médico neurologista, que com o histórico do paciente, exame físico e correlação com exames de imagem e de laboratório irá fechar o diagnóstico.

 

“O neurologista deve fazer uma boa anamnese e identificar a partir do relato do paciente, complementado com exames de neuroimagem, como tomografia e ressonância magnética, para verificar se existe uma lesão”, explica Luciano de Paola, coordenador do Departamento Científico de Epilepsia da Academia Brasileira de Neurologia (ABN).

 

5. Convulsão febril

 

A convulsão febril ocorre na infância entre os 03 meses e 05 anos de idade e está associada a febre sem outras condições patológicas. É um dos cenários de maior preocupação para a família e principalmente na escola.

Os mecanismos de ocorrência da convulsão febril ainda não foram totalmente esclarecidos, no entanto acredita-se que a imaturidade do cérebro torna as crianças mais susceptíveis a convulsão febril do que os adultos, além da predisposição genética que alguns autores relatam.

A convulsão febril costuma ser simples, com tremores rápidos e isolados. De modo geral, a maior parte das crianças que tiveram a primeira crise convulsiva, apresentarão apenas um episódio durante a vida.

A duração da convulsão pode chegar a 5 minutos com variável de até 15 minutos.

A febre pode ser a partir de 38°C variando de criança para criança com uma única crise em 24 horas.

É muito importante é saber se a criança possui alguma doença neurológica prévia, pois na convulsão febril benigna a criança não possui essa condição.

Após essa etapa, ainda é realizado um estudo funcional por meio do encefalograma e verifica-se qual área não funciona adequadamente. Com o cruzamento dessas informações, é possível identificar e definir a razão da crise. “Neste processo, temos um indicativo de prognóstico, se a pessoa responderá a determinado tratamento”, informa Luciano de Paola.

 

6. Primeiros socorros em caso de convulsão na escola

 

Ao detectar uma convulsão no ambiente escolar seguir os passos abaixo:

  • Acionar o serviço móvel de emergência (192) ou solicitar para alguém que o faça.
  • Solicitar para que as pessoas se afastem (especialmente outras crianças) e pedir ajuda.
  • Apoiar a cabeça da vítima e lateralizar (virar a cabeça para o lado, isso permitirá a saída da saliva e melhora da respiração).
  • Caso as contrações estejam muito fortes e impeçam a lateralização da cabeça, virar todo o corpo da vítima.
  • Retirar objetos que possam machucar (óculos, pulseiras, relógios).
  • Afastar mobiliários que possam machucar (carteiras, mesas, cadeiras).
  • Garantir a privacidade da vítima (após um episódio de convulsão poderá ocorrer a perda de fezes e urina).
  • Toda convulsão deverá ser avaliada por um médico, é importante que o SAMU (192) encaminhe a vítima para um hospital preferencialmente e segundo a recomendação da CODEPPS.

 


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Confira um vídeo com a simulação de um atendimento a crise convulsiva, durante entrevista realizada pela nossa equipe para o Programa Salada Brasil da TV Osasco:

 

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7. Recomendações importantes

 

  • A utilização de luvas é indicada devido a possibilidade de contato com saliva, urina e fezes, por isso é importante solicitar ajuda e o kit de primeiros socorros (que deverá conter luvas).

 

  • Instituir um protocolo para atendimento da convulsão no ambiente escolar, isso possibilitará o alinhamento com toda a equipe sobre os procedimentos básicos iniciais até a chegada do SAMU (192), o que favorece a redução de complicações da vítima.

 

Confira as orientações do Dr. Drauzio Varella:

 

8. O que não fazer diante de uma crise convulsiva

 

  • Nunca impedir os movimentos durante a convulsão, isso poderá machucar a vítima.
  • Não tentar abrir a boca, mesmo que apresente sangramento (geralmente devido ao fato de morder a língua).
  • Não colocar qualquer objeto ou tecido entre os dentes ou dentro da boca, isso poderá causar lesões na vítima e até no socorrista, basta lateralizar a cabeça e a respiração será normalizada.
  • Não tentar oferecer líquidos ou medicamentos pela boca, mesmo após a crise.
  • Não transportar a vítima durante a crise, isso poderá causar complicações.

 


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Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura.

 

 

Veridiana Ferreira Torres

Enfermeira Especialista em Cardiologia pela Unifesp e Pós-Graduada em Docência do Ensino Superior

 

 

 

 

Publicado em: 13/11/2016

Atualizado em: 05/12/2021

 

 

Referências:

 

 

  • SMELTZER, S.C.; BARE, B.G. Tratado de enfermagem médico-cirúrgica. 10. ed. v.4. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2010.
  • COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO DE PROGRAMAS E POLÍTICAS DE SAÚDE – CODEPPS, Manual de prevenção de acidentes e primeiros socorros nas escolas, 2007.
  • ACADEMIA BRASILEIRA DE NEUROLOGIA. Epilepsia: como identificar e prestar os primeiros socorros. ABNEURO, 2014.
  • CASELLA, E.B.; MÂNGIA, C.M.F. Abordagem da crise convulsiva aguda e estado de mal epiléptico em crianças. Jornal de Pediatria – Vol. 75, Supl.2, 1999
  • SECRETÁRIA DA EDUCAÇÃO BÁSICA, Programa de Formação de Professores de Educação Infantil, Livro de Estudo Módulo III, Brasília: MEC, 2006.
  • PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA. Protocolo Clínico de Saúde da Criança, Autarquia Municipal de Saúde, 1. ed., 70 p. 2006.
  • VARELLA, D. Doenças e Sintomas: Convulsão. 2012.