PISCINA NA ESCOLA E PREVENÇÃO DO AFOGAMENTO

 

1. Variações quanto a idade e local de afogamento 

2. Estatística de afogamento no Brasil 

3. Uso de boias por crianças 

4. Cuidados com o colete salva-vidas 

5. Prevenção de afogamento com crianças 

6. 5 atitudes para prevenção de afogamentos 

7. Piscina na escola e prevenção de acidentes 

8. Primeiros socorros em caso de afogamento

9. Como os pais podem contribuir com a prevenção do afogamento na escola ou nas atividades aquáticas 

10. Curiosidade

 

 

O verão está chegando e junto com ele aquela sensação boa de estar em uma piscina com toda família, mas… Cuidado, não descuidem das crianças!

A natação é um dos grandes prazeres da vida que oferece saúde, benefícios físicos e uma grande oportunidade de se socializar com a família e amigos. Porém, verifique que todos fiquem seguros na água e em volta dela, por estar conscientes de como aproveitar seus benefícios e minimizar seus riscos.

No Brasil, quatro crianças até 14 anos de idade morrem afogadas diariamente. Em 2011 o afogamento no Brasil foi a 2ª causa de óbito entre 1 e 9 anos, a 3ª causa nas faixas de 10 a 19 anos e a 4ª causa na faixa de 20 a 29. As piscinas foram responsáveis por 1,6% de todos os casos de óbito por afogamento.

Os óbitos em piscina constituem 2% em média do total dos afogamentos em nosso país, as piscinas são responsáveis por 54% dos casos entre 1e 9 anos de idade e 76% na faixa de 1 a 29 anos de idade.

O acidente ocorre de forma silenciosa, isto é, raramente há relatos de testemunha que a vítima debateu-se na água, gritando por socorro. Infelizmente grande parte dos sobreviventes apresenta sequelas neurológicas graves e irreversíveis, fazendo com que a prevenção seja a melhor estratégia na abordagem do acidente por afogamento.

Este tipo de acidente pode ocorrer em mares, rios, represas, lagos e piscinas, mas o que muita gente desconhece é que ele também ocorre dentro de casa. Baldes, bacias, banheiras e até mesmo vasos sanitários são causadores desses acidentes com crianças e adolescentes.

 

1. Variações quanto a idade e local de afogamento

 

  • Crianças de 1 a 9 anos: maior incidência de afogamentos por quedas em piscinas e espelhos de água em casa e em seu entorno.
  • Crianças que sabem nadar: maior incidência de afogamentos por incidentes de sucção pela bomba da piscina.
  • Crianças maiores de 10 anos e adultos: maior incidência de afogamento em água naturais.

 

2. Estatística de afogamento no Brasil

 

No ano de 2012 o afogamento no Brasil foi responsável por:

  • 2a. causa de morte entre crianças de 1 a 9 anos.
  • 3a. causa de morte na faixa de 10 a 19 anos.
  • 4a. causa de morte na faixa de 20 a 25 anos.
  • 6.369 brasileiros morrem afogados.

 

3. Uso de boias por crianças

 

Esse tipo de acidente pode ocorrer em qualquer modalidade esportiva ou de lazer que ocorra na água.

As boias de braço não evitam que as crianças mergulhem a cabeça na água e ainda podem, facilmente, estourar. Além de deixarem apenas os membros boiando e podem ser retiradas pelas próprias crianças

As boias de cintura podem fazer com que a criança vire de cabeça para baixo ou deixe-as escapar através de seu orifício central.

O único equipamento de segurança para evitar afogamentos com crianças é o colete salva-vidas, mas nada substitui a supervisão atenta e educativa dos adultos.

 

 


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4. Cuidados com o colete salva-vidas 

 

O colete salva-vidas foi idealizado para ser utilizado em situações de emergência ou para dar segurança permanente em atividade aquática esportiva.

  • Coletes salva vidas para adultos não foram projetados para crianças.
  • Coletes infláveis possuem flutuabilidade própria podem inflar automaticamente mediante a imersão ou com ativação manual.
  • Coletes do tipo jaqueta foram projetados para possível imersão, não possuem ativação automática.
  • Não puxar, cortar, escrever ou alterar a estrutura do colete salva-vidas, ele é projetado e testado para garantir a segurança.
  • Não apoiar objetos pontiagudos e não usar como assento ou encosto, pois poderá perder parte de sua flutuabilidade.
  • Lavar em água doce após o uso e sempre deixar secar em locais ventilados.
  • Mantê-lo longe de fontes fortes de calor e não guardar úmido dentro do barco por longos períodos.
  • Boias e colete salva-vidas não tem prazo de validade previstos por lei, a troca é indicada de acordo com as condições de uso do produto.

 

   Modelo de colete salva-vidas para crianças Fonte: BD Outdoors


5. Prevenção de afogamento com crianças: 

 

1. As crianças menores que 4 anos de idade devem ser afastadas de qualquer reservatório de líquidos (baldes, banheiras, vaso sanitário, tanques e piscinas) que deverão ser esvaziados após uso. A criança maior deve aprender a nadar e conhecer regras de segurança de piscinas, assim como, de parques e esportes aquáticos.

2. Sempre deverão ser educados a evitar brincadeiras agressivas à beira de piscinas, lagos e rios.

3. Devem ler e respeitar avisos de segurança dos locais e nunca desafiar seus próprios limites.

4. Piscinas e similares devem ser adequadamente cercadas (1,5 m de altura e espaço entre grades menor ou igual a 12 cm) e de preferência com portão e tranca.

5. A presença de brinquedos dentro da piscina é atrativa que deve ser evitado.

6. Lembrar ao construir sua piscina residencial que o objetivo é de lazer, não justificando grandes profundidades. Todo construtor com responsabilidade conhece e tem normas técnicas de segurança a cumprir (Resolução Estadual nº 53, de 12 de agosto de 1982 e o Programa de qualidade em segurança-SOBRASA).

7. A supervisão constante de um adulto quando uma criança está próxima ou dentro da água é a melhor prevenção de um acidente por afogamento.

8. Aconselha-se que, a partir dos primeiros anos de vida, as crianças iniciem o aprendizado da natação com profissionais qualificados. Aprender a nadar é regra básica para prevenir acidentes. Prevenir afogamentos consiste, principalmente, no desenvolvimento de programas educacionais e de treinamento em natação nas escolas e clubes esportivos.

9. Quando se tratar de piscinas portáteis, é preciso cobri-las com telas bem esticadas e presas nas bordas para minimizar os riscos ou após a utilização, esvaziá-las imediatamente e armazená-las de cabeça para baixo e fora do alcance de crianças.

10. Utilizar sistema adicional de segurança como sinalizadores sonoros que avisam quando alguém ultrapassou uma área com água.

11. Se os pais ou responsáveis não sabem nadar, é recomendado que aprendam também.

12. Educar as crianças sobre os riscos de nadarem próximo a drenagens ou sucção de água (ralos de piscinas).

13. Desde a primeira vez que uma criança nadar, ensiná-la a nunca chegar perto da água sem a presença de um adulto.

14. Orientar a criança para nunca mascar chiclete ou comer durante atividades aquáticas para que seja evitado o sufocamento.

15. No primeiro sinal de chuva, abandonar qualquer atividade aquática externa.

16. Celulares devem permanecer guardados. A atenção do adulto deve ser 100% para as crianças que estão na água ou próximas.

17. Incentivar as crianças maiores a aprenderem ressuscitação cardiopulmonar (RCP) e incentivar todos os adultos, como familiares, professores e treinadores, a praticarem.

 

6. 5 Atitudes para prevenção de afogamentos

 

1. Atenção de 100% para a criança: ficar na distância de 1 braço da criança mesmo na presença de um guarda-vidas.

2. Guarda-vidas sempre presente: certificado pela Sobrasa e devidamente equipado com flutuador de resgate.

3. Urgência: aprender a agir diante de uma situação de emergência aquática.

4. Acesso restrito a piscinas: utilização de grades ou cercas com portões auto-travantes a uma altura que impeça a criança de entrar neste espaço sem a presença de um adulto.

5. Uso de ralos anti-aprisionamento: para evitar a sucção de cabelo e partes do corpo dentro da piscina.

 

 


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7. Piscina na escola e prevenção de acidentes 

 

É muito importante que os professores de Educação Física conheçam os requisitos básicos de segurança para que a prática esportiva entre crianças e jovens ocorra de forma segura, prevenindo lesões e outras complicações e promovendo melhor rendimento dos alunos nas atividades e jogos. São eles:

Manter uma boa comunicação

  • Realizar uma reunião com os familiares antes do primeiro treino e orientá-los sobre como podem contribuir para que as crianças estejam seguras e saudáveis para a prática do esporte;
  • Solicitar aos familiares informações de contato em caso de emergência e mantê-las à mão

A importância do exame físico

  • É necessário realizar avaliação física/ exame médico em todas as crianças antes da participação na prática esportiva;
  • Questionar os familiares e detectar se a criança apresenta al­guma doença como asma ou outra condição que necessite de atenção especial.

Sempre orientar a utilização de equipamentos de segurança

  • Verificar se os equipamentos de segurança estão em boas condições antes da prática esportiva;
  • Assegurar que todas as crianças utilizem os equipamentos da maneira correta e auxiliá-las, se necessário.

Prevenir a desidratação

  • Certificar que as crianças estão hidratadas e fizeram a ingestão de água 30 minutos antes, durante e após as práticas esportivas, e se carregam uma garrafa de água;
  • Reconhecer os sinais e sintomas da desidratação e outras doenças provocadas pelo calor
  • Realizar pausas obrigatórias de 15 a 20 minutos em todas as atividades e jogos, sem esperar que a criança fale que está com sede
  • Orientar os familiares e as crianças a reconhecerem os sinais e sintomas da desidratação.

Importância do aquecimento antes da atividade esportiva

  • Garantir que as crianças realizem um aquecimento antes das atividades esportivas e jogos;
  • Para o aquecimento é recomendado dez minutos de corrida ou outra atividade leve;
  • Realizar alongamento dos principais grupos mus­culares durante 20 ou 30 segundos.

Sempre permitir um descanso e recuperação

  • Para prevenir lesões por uso excessivo dos grupos musculares, realizar pausas adequadas para todas as crianças durante as práticas esportivas;
  • As crianças devem ter pelo menos um ou dois dias de descanso por semana das atividades esportivas;
  • Orientá-las a relatar dor e lesões que possam ter ocorrido durante as práticas esportivas;
  • Orientar os familiares, equipe e crianças sobre a im­portância de uma pausa anual das práticas esportivas. A pausa recomendada é de até dez semanas por ano, chamada de “baixa temporada”. Neste período, a crian­ça poderá praticar outras atividades físicas.

 Atentar-se aos fatores ambientais

  • Verificar a previsão do tempo e ter cuidado com a ameaça de altas temperaturas, tempestades ou chu­vas fortes e raios durante os treinos e jogos;
  • Realizar uma verificação rápida na superfície onde ocorrerão os jogos (se estão sem buracos, pedras ou objetos pontiagudos) e se as redes (caso sejam utili­zadas) estão seguras e firmes.

Capacitar-se e realizar treinamentos

  • Realizar a capacitação em primeiros socorros e se­gurança nos esportes é fundamental;
  • Manter sempre à mão um kit de primeiros socorros e os telefones de emergência.

 


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8. Primeiros socorros em caso de afogamento 

 

Retirar a criança rapidamente da água, preferencialmente em posição vertical (a cabeça deve estar sempre acima do nível do corpo) para um lugar seco e seguro.

Avaliar o nível de consciência (se está acordada, se responde).

Avaliar o padrão respiratório: dificuldade para respirar, presença de tosse e espuma na boca ou nariz, ausência de respiração;

Acionar o serviço de emergência ou solicitar a alguém próximo para que o faça: ligar para 193 (Corpo de Bombeiros).

Se a criança estiver consciente e respirando, colocá-la na posição lateral direita (nesta posição a criança terá uma respiração mais confortável, já que nosso pulmão esquerdo é menor – por conta do posiconamento do coração – e tende a acumular mais líquidos, por isso é importante deixar o lado esquerdo para cima, além do risco de ocorrer vômitos).

Aquecer a criança é muito importante para manter seus sinais vitais estáveis.

Se a criança estiver inconsciente: Siga as orientações que serão realizadas pelo atendente do Corpo de Bombeiros: Se for solicitado para que você verifique o pulso  próximo: coloque o dedo indicador e anelar ao lado da garganta (no pescoço) e caso não sinta o pulso iniciar a manobra de ressuscitação cardíaca com compressões no tórax (no meio do tórax).

Essa compressão deverá ser realizada:

  • Bebês até 1 ano: utilizar dois dedos
  • Crianças ate 8 anos: utilizar uma das mãos
  • Crianças acima de 8 anos: utilizar as duas mãos sobrepostas

 

Posicionamento com uma mão para realização da compressão do tórax (massagem cardíaca)
Fonte: BLS

 

Posicionamento dos dedos para verificação do pulso
Fonte: BLS

 

Vídeo do Corpo de Bombeiros: manobra de ressuscitação cardiopulmonar no bebê. Clique para assistir:

 

 

9. Como os pais podem contribuir com a prevenção do afogamento na escola ou nas atividades aquáticas: 

 

Os pais têm um papel muito importante na prevenção de afogamentos em piscinas. Além de sempre estar na supervisão quando a criança estiver ao redor ou dentro da água, estes devem se atentar quanto às seguintes orientações:

Encaminhar a criança para avaliação física com um médico, antes da participação na atividade esportiva.

Fornecer aos professores informações de contato em caso de emergência e informações médicas que requeiram atenção especial, como alergias e asma.

Certificar que os professores realizam pausas obrigatórias para que as crianças façam a ingestão de líquidos.

Conhecer os sinais e sintomas da desidratação, orientar as crianças e certificar que os treinadores/ professores também os conhecem bem.

Garantir que a criança utilize equipamento adequado para a prática esportiva, como o colete salva-vidas e até protetor solar quando necessário.

Encorajar as crianças a relatar dor e lesões que possam ter ocorrido durante as práticas esportivas para que qualquer tipo de acidente seja evitado.

Participar de treinamentos sobre segurança nos esportes para ajudar a prevenir lesões e possíveis acidentes.

 

10. Curiosidade

 

Nos Estados Unidos há uma lei que garante um programa de educação pública para reduzir as taxas de afogamentos em piscinas. Engloba a proteção e a supervisão constante das crianças ao redor e dentro da água, aulas/treinamento de natação para as crianças e os pais aprendem as manobras de RCP (ressuscitação cardiopulmonar) além dos cuidados com as instalações dos ralos de sucção nas piscinas.

 


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Maira BassiMaíra Bassi Strufaldi

Enfermeira e Fisioterapeuta, Pós-graduada em ortopedia e traumatologia, educadora em diabetes, residente do HC-USP

 

Letícia Spina Tapia

Enfermeira e Fisioterapeuta, Mestre no Ensino em Ciências da Saúde e Coordenadora Nacional do Programa Escola Segura.

 

 

Publicado em: 07/07/2017

Revisado em: 07/07/2017

 

Referências: